sábado, 21 de novembro de 2009

Convescote na Fronteira


Por Adão Paiani*

Definitivamente, parece que a fronteira Brasil/Uruguay, em Livramento-Rivera, se transformou no mais novo ponto de encontro do tucanato-yedista. Apenas alguns dias depois do titular da “Secretaria da Transparência e Probidade Administrativa” do Estado haver sido flagrado na estafante tarefa de reforçar sua adega, durante participação em Seminário para discutir o Bioma Pampa, assunto, aliás, como se sabe, afeito à sua pasta; novamente as cidades irmãs recebem membros diversos do Governo gaúcho.

Yedistas-tucanos de plumagens diversas, de rabos curtos e longos, escolheram a urbe fronteiriça para; ao mesmo tempo em que curtem as alegrias de comprar nas free-shops, também, no que resta; discutir o modelo guasca de gestão, probidade e transparência administrativa; em convescote iniciado às 14h de sexta-feira, 20 de novembro. E a Avenida Sarandi e adjacências tornaram-se o poleiro predileto dessas curiosas aves, do início da manhã até altas horas.

Por volta das 19h, emplumados Deputados, um Federal e outro Estadual; este último que também exerce as funções de Sabotador-Mor da CPI da Corrupção, na Assembléia Legislativa; curtiam festivo happy hour no La Leña, por sinal o mesmo de predileção de transparente Secretário, anteriormente citado. Animados quadros políticos da administração estadual flanavam por entre as lojas, bares, restaurantes e cafés, curtindo as benesses que a oportunidade oferece; em um abafado final de tarde, a exigir o aporte de, quiçá, algumas Patrícias ou Norteñas.

Por absoluta coincidência, o encontro partidário ocorreu um dia antes da realização da chamada “Rua da Cidadania”; projeto governamental criado para alavancar a futura campanha da primeira-filha da progenitora maior do Estado, herdeira política do clã; evento em que a presença dos comissionados se faz extremamente necessária. Afinal, claque é para essas coisas.

O senso de oportunidade dos tucano-yedistas não possui limites visíveis e é; convenhamos; invejável. Bem; se um encontro partidário antecede uma agenda teoricamente oficial, e se os participantes são os mesmos, porque não unir o útil ao agradável? Afinal, ninguém vai se importar se a presença em um evento de interesse exclusivamente partidário for agraciada pelo recebimento de diárias do Estado; mesmo que isso requeira o dom de se estar em ao menos três lugares diferentes; realizando tarefas diversas; como cumprir com os compromissos com o partido, fazer compras e preparar um evento oficial; esse, evidentemente, de menor importância; mas capaz de garantir o subsídio.

O cálculo é simples. Levando-se em conta que muitos para lá se deslocaram, nos chamados “grupos precursores”, ainda na quinta à noite; e se realizando o evento oficial entre 09 e 17 horas do sábado; findo o qual, um retorno ainda na mesma noite é extremamente complicado; pela distância; é bem provável que alguns retornem apenas no domingo. Isso representa um incremento, nos vencimentos, ao menos no mês corrente, de pelo menos quatro diárias, além do transporte. Nada mal. Principalmente, quando o patrão - o contribuinte - não chia.

Obviamente isso é tão somente um exercício de imaginação. De forma alguma poderíamos afirmar que as coisas transcorrem assim. Seria, seguramente, um injusto prejulgamento. Um governo que cria uma Secretaria com a finalidade específica de zelar pela probidade no âmbito da máquina pública, já deve ter concebido, também, mecanismos eficientes para evitar que essas pequenas travessuras, de um ou outro servidor, isoladamente, ocorram.

Ou deve ter decidido, com base num conceito de moralidade pública extremamente seletiva e elástica, que essas coisas não têm o menor problema em acontecer. E que devem, inclusive, ser incentivadas; com o exemplo e iniciativa daqueles que se encontram nos escalões superiores. O exemplo vem de cima.

E, convenhamos, o que são umas diariazinhas? Ou comprinhas singelas feitas em horário de trabalho e depois transportadas em veículos oficiais? Tem-se a vantagem da passagem livre, sem abordagem; o que pode ser extremamente útil se for extrapolada a cota permitida. E efetuar os procedimentos burocráticos de pagamento de impostos incidentes sobre o valor além cota é uma verdadeira maratona.

Ainda bem que podemos contar com o Portal da Transparência; esse fabuloso instrumento que permite que cada cidadão gaúcho tenha a informação precisa, correta, rápida e facilmente compreensível, de onde são investidos os recursos públicos, fruto dos impostos que todos, inapelavelmente, pagam.

Ainda bem. Vou lá consultar.

*Advogado

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