Ainda é muito cedo para qualquer análise ou caracterização mais completa do governo Tarso, que mal completou 30 dias. Porém, gostaria de arriscar alguns apontamentos baseados nos primeiros movimentos, nas manifestações públicas e no passado recente.
Ao contrário do estilo discreto do governo Dilma, o novo governo estadual mostra-se ávido pela produção de manchetes e sujeito a pauta determinada pelo oligopólio midiático regional. Muitas, diga-se de passagem, de concretização duvidosa ou em tempo indeteminado - vide o anúncio do empréstimo solicitado ao BNDES e o velho e batido projeto de atração de novas montadoras.
Particularmente, suspeito da ausência de um projeto político claro e definido pelo governo estadual. Vou explicar o porquê.
Herdeiro do enorme patrimônio político construido pelas administrações da Frente Popular no Estado nas últimas décadas e eleito no primeiro turno das eleições sem necessidade de qualquer concessão na política de alianças, Tarso possui condições incomparavelmente mais favoráveis para avançar programaticamente do que Lula e Dilma. Todavia, durante bom tempo o nosso governador tem priorizado a chamada "Concertación". Em bom português, a boa e velha política de conciliação.
Logo após a posse, a conciliação converge para o chamado Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Com seus membros escolhidos pelo governador, o Conselho parece ter como principal tarefa satisfazer a agenda de setores conservadores e legitimar reformas impopulares, blindando o governo de maiores desgastes.
Essa estrutura, muito assemelhada aos conselhos criados pelos velhos monarcas, é totalmente antagônica ao mecanismo de democracia direta, voluntária e universal criado no governo Olívio, o Orçamento Participativo-OP. Enquanto no OP o governo propunha discutir e buscar soluções para os problemas do Estado com toda a cidadania, delegando poder ao povo para discutir sobre investimentos e políticas públicas, o Conselho busca em notáveis, principalmente no círculo de relações do próprio governador, construir saídas pactuadas para questões previamente determinadas.
Um retrocesso incontestável em termos de originalidade e uma grande decepção para todos que acreditam na radicalização da democracia e na participação popular como instrumento de controle e aperfeiçoamento do Estado.
Espero que mais uma vez não impere a máxima do velho Barão: "de onde menos se espera é que não vem nada mesmo".
5 comentários:
é, o homem gosta de fumaça...o pior é esse conselhão sem representatividade nenhuma, quem elegeu esses caras? Eles podem mal e porcamente representar essa intenção de projeto do governo Tarso.
Que moral teria esse conselho de propor, por exemplo, se votar uma reforma da previdência?
O problema do Tarso é que ele quer ser o Lula, sem ter seu carisma, e pousar de técnico como a Dilma, sem nunca ter tido a competência dela.
Que tal ele ser original? Mas, parece que lhe falta substrato para isso! Será ele isso mesmo, uma reunião disforme de outros, sem sintetizar nada? Além de espuma, é claro!
Sem falar na vaidade desmedida que coloca seus projetos políticos pessoais sempre em primeiro lugar.
Calma, gente. Vocês querem milagre em pouco mais de 30 dias. Lembrem-se que o Governo Lula só decolou depois de 2 anos. Este ano de 2011 é para arrumar a casa. Segurem suas ansiedades.
Estou achando muito bom o governo Tarso, exatamente porque deixou perdido para trás, no pó da poeira, o rançoso governo Olívio.
Fiz menção a este post no meu depósito. É a primeira crítica que leio de certa esquerda sobre o governo Tarso - que vai muito bem com seu estilo agregador. Quero ver até quando vai durar essa trégua que certa esquerda está dando para Tarso e também para Dilma.
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