sexta-feira, 30 de abril de 2010

Os tucanos e a revista Time


A revista norte-americana TIME elegeu o presidente Lula um dos líderes mais influentes do mundo. Particularmente, nunca tive e não tenho esse tipo de publicação como base para pautar qualquer tipo de discussão ou análise. Mas, o fato deixa a mídia corporativa e o tucanato incrivelmente desconfortáveis. 

O baronato midiático sempre utilizou a mídia estadunidense  como referência. Os ataques e os factóides da mídia corporativa contra a política externa brasileira são baseados, fundamentalmente, na excessiva autonomia em relação as posições dos EUA. Assim, a escolha da revista TIME fragiliza, para não dizer fulmina, essa estratégia tucano-midiática. 

Algumas dificuldades do tucanato tem sido tão grandes e os erros de atuação tão grosseiros que dificilmente passam desapercebidos dos cidadãos mais atentos. Ontem, a tarde, ouvi o seguinte comentário na conversa de dois desconhecidos: "E agora, o PSDB irá mandar auditar a revista TIME?".

terça-feira, 27 de abril de 2010

ISRAEL ACORRENTA CRIANÇAS EM GAZA:ONDE ESTÃO OS DEFENSORES DA LIBERDADE?

Ao lado crianças acorrentadas por soldados israelenses na faixa de Gaza.

Vamos aos fatos que demonstram o comportamento da mídia.

Mais de sete mil palestinos realizam greve de fome.

São mais de 10 mil que sofrem nas masmorras israelenses.

Entre os presos, crianças, adolescentes e mulheres sem nenhuma acusação. Resumindo:

1- Mais de  seis mil presos são da Cisjordânia ocupada.

2- Mais de 400 estão dentro de Israel e Jerusalém oriental.

3- Mais de 700 são da Faixa de Gaza.

4- Mais de 33  são mulheres.

5- Mais de 300 são menores de 18 anos.

6- Mais de 800 foram condenados a prisão perpétua.

7- Mais de 600 foram condenados a 50 anos.

8- Mais de 40 foram condenados a 20 anos.

9- Mais de 130 foram condenados a 15 anos.

10- Mais de 250 foram condenados a mais de 10 anos.

11- Mais de  2.000 estão padecendo de doenças, dos quais160 em estado grave.

12- Mais de 20 estão com câncer e não recebem tratamento.

E sobre isso, nenhuma nota da mídia.
E ainda tem gente que fala em liberdade de imprensa.

E no entanto, quando um cubano, apenas um, faz greve de fome, a grita da mídia e geral.

Se a mídia fica sabendo que um cubano faz greve de fome e não tem nenhuma informação sobre os milhares de palestinos, presos políticos- diga-se- a conclusão é apenas uma.

Cuba, em razão da liberdade total e plena, não consegue ocultar nenhuma informação;

Israel, uma  ditadura onde nem a greve de fome de sete Mil palestinos consegue chegar a público.

Alguém discorda?

Pescado do blog do Miguel Grazziontin, originalmente publicado no blog do Bordoukan

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A Guarda Municipal e as promessas de FOGAÇA


O ex-prefeito José Fogaça (PMDB) incluiu a ampliação, qualificação e investimentos na guarda municipal como uma das principais mudanças que prometia realizar na Capital. É bom lembrar da imagem das patrulhas integradas com os órgãos de segurança pública repetidamente veiculadas na propaganda eleitoral da primeira campanha de FOGAÇA.

Passados mais de 06 anos, Fogaça deixou o governo devendo mais essa promessa de campanha. O blog Imerso n'àgua faz uma boa descrição da incapacidade demonstrada pela administração municipal até para aumentar o efetivo da valorosa guarda municipal. Saiba mais clicando aqui.

domingo, 25 de abril de 2010

Violação de Direitos Humanos e Mortes na Fronteira com EUA não interessam à grande Mídia


Nunca é demais destacar a hipocrisia da mídia oligarquica e a ocultação de seus objetivos inconfessáveis. Mídia que adora utilizar falsamente o discurso da defesa dos direito humanos contra seus inimigos e desafetos, mas ignora solenemente as violações cometidas por seus aliados e mandatários. Um bom exemplo é o tratamento dado ao Muro de Berlim e ao Muro da fronteira dos EUA com o México.

O muro que dividia a Alemanha foi responsável pela morte de aproxidamente 223 pessoas. Motivo de recorrentes condenações e recordações passados mais de 20 anos do seu fim. Já o outro muro de 3.141 quilômetros que atualmente divide os EUA e o México, abrangendo os estados do Texas, Califórnia, Novo México e Arizona, é motivo de silêncio obsequioso da mídia corporativa. O muro estadunidense é responsável por uma verdadeira chacina, tendo vitimado aproximadamente 5,6 mil pessoas desde sua criação em 1994, segundo  relatório do próprio escritório de contabilidade da Casa Branca.


Isso sem falar, no muro que Israel vem construindo com objetivo de isolar os territórios palestinos, privando seus habitantes das suas terras e recursos naturais, declarado ilegal pelo Tribunal Penal Internacional em 2004.

Mas, a divulgação e discussão desses fatos não interessa aos setores hegemônicos que controlam a midia tradicional. Eles falam por si só e expõem as mazelas do mundo, não permitindo as simplificações e divisões maniqueistas tão usuais.

sábado, 24 de abril de 2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A cumplicidade midiática tem seu preço


O PMDB do ex-prefeito e atual candidato ao governo do Estado José FOGAÇA governou Porto Alegre por mais de 6 anos. Esse período não pode ser relacionado com nenhuma grande obra ou realização de governo, mas sim com um verdadeiro vazio administrativo que custa cada dia mais caro à população.

Essa inoperância marcou o governo FOGAÇA. A redução de investimentos, a falta de planejamento e o sucateamento da capacidade de execução da máquina administrativa paralizou investimentos vitais para indução do desenvolvimento na cidade, incluindo os projetos integrantes do Plano de Aceleração do Crescimento - PAC. A inaptidão do ex-prefeito para o executivo, inclusive para arbitrar os conflitos entre os partidos que lotearam as diversas pastas de governo, é comentário corrente no meio empresarial. 

Apesar disso tudo, a apatia administrativa do governo da capital encontrou no oligopólio midiático regional um aliado vital. O pouco destaque dado as precariedades e deslizes que envolveram o governo FOGAÇA (vide as denúncias de corrupção na Secretaria Municipal da Saúde) foram decisivos para ocultar suas debilidades. Mas, essa blindagem midiática também cobrou um preço. Os gastos em publicidade no governo municipal cresceram mais de 50%, passando de uma média anual de R$ 7,5 milhões em 2003/2004 para R$ 11,5 milhões em 2005/2009.  

SUL 21: Informação & bom humor

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Projeto regressista de SERRA já causa estragos



Sem nada a propor ao País, José SERRA (PSDB) representa uma oposição com um projeto regressista, que pretende retormar os malfadados anos FHC. SERRA rejeita a integração da América Latina, pois defende uma inserção subordinada aos EUA via Área de Livre Comércio das Américas - ALCA.

Em palestra na Federação de Indústria de Minas Gerais (FIEMG), o candidato tucano chamou o MERCOSUL de "uma farsa" e "uma barreira para que o Brasil possa fazer acordos comerciais" (leia-se ALCA)

As declarações do tucano causaram pronta reação dos países vizinhos. O jornal argentino EL CLARÍN destacou a afirmação de SERRA, questionando como o candidato tucano pode considerar uma farsa um modelo que aumentou as exportações brasileiras em 5 vezes (de 50 bilhões para 250 bilhões ano em 2010) - veja aqui.

O Chanceler argentino, Jorge Taiana, também contestou as declarações de SERRA afirmando: "Não acho que esta seja posição do Brasil nem da maioria de seus setores econômicos e políticos".

O projeto regressista de SERRA já causa estragos ao País.

Fala liderança, fala!


Com o apoio Partido Progressista - PP - sendo disputadíssimo entre a governadora YEDA (PSDB) e o ex-prefeito de Porto Alegre José Fogaça (PMDB), seria natural que o deputado José Otávio Germano, uma das principais lideranças do PP, fosse ouvido pela mídia. Germano deve estar com o coração dividido entre as duas candidaturas, pois possui fortes vinculos com o governo tucano e foi Secretário da Segurança no governo Rigotto (PMDB).

Durante o período que comandou a pasta da Segurança Pública no Estado foi calorosamente tratado pelo oligopólio midiático regional, que chegou a cogitá-lo como forte candidato à Prefeitura da Capital. Também na sua gestão teria se iniciado no DETRAN o esquema que desviou milhões de reais dos cofres públicos.

O deputado federal José Otávio Germano (PP), inclusive, foi um dos principais acusados pela milionária fraude no DETRAN  na ação de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Federal - MPF. Nas degravações que compõem o farto conjunto probatório da ação, por diversas vezes, Germano é chamado de "liderança" por seus correligionários e seguidores. O Ministério Público consignou na denúncia que a quadrilha que agia no Detran não descuidava da imagem familiar e empresarial que tinham na sociedade, para tanto, buscavam a proximidade com a mídia. Na página 56 (de 242) da denúncia do MPF lê-se:

"Ao lado disso, os denunciados integrantes da quadrilha não descuidavam da imagem dos grupos familiares e empresariais, bem assim da vinculação com a imprensa. O grupo investia não apenas na imagem de seus integrantes, mas também na própria formação de uma opinião pública favorável aos seus interesses, ou seja, aos projetos que objetivavam desenvolver. A busca de proximidade com jornais estaduais, aportes financeiros destinados a controlar jornais de interesse regional, freqüentes contratações de agências de publicidade e mesmo a formação de empresas destinadas à publicidade são comportamentos periféricos adotados pela quadrilha para enuviar a opinião pública, dificultar o controle social e lhes conferir aparente imagem de lisura e idoneidade."

Embora continue a apresentar Germano como um dos puxadores de votos do PP, curiosamente, nos últimos tempos, a opinião da "liderança do PP" não tem interessado ao oligopólio midiático regional, nem a cobertura do ação de improbidade que irá julgar os acusados. Mas, nós não esquecemos os fatos e os seus personagens. Fala liderança, fala!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Sistema eleitoral preserva o corte censitário



A atribuição de direitos políticos exclusivos as elites sociais e econômicas é prática antiga.  Trata-se de proteger juridicamente os interesses da elite dominante, evitando  o indesejável protagonismo do povo. A primeira Constituição brasileira já estabelecia o voto censitário, reservando os direitos políticos apenas a parcela da população de maior renda. Somente essa elite econômica formada por cidadãos brasileiros, católicos e com renda líquida anual superior a 100 mil réis podia participar do processo eleitoral. Calcula-se que menos de 0,5% da população tenha tido direito ao voto durante todo o período do Império. 
 
O processo eleitoral era realizado em dois turnos. No primeiro era formado um colégio eleitoral que, no segundo momento, elegeria os senadores, deputados e membros do Conselho da Província.

A renda anual também era utilizada como condição de elegibilidade, somente podendo ser eleitos para o Colégio Eleitoral candidatos cuja renda anual ultrapassasse 200 mil réis; para Câmara dos Deputados a renda deveria ser superior a 400 mil reis e para o Senado o candidato deveria auferir no mínimo 800 mil réis anuais.

O tempo passa, as formas de dominação se aprimoram, mas o conteúdo de fundo permanece. Ao ler que "as duas principais candidaturas presidenciais e os aliados estaduais planejam gastar quase R$ 1 bilhão até outubro" tive certeza que nosso sistema eleitoral preserva, na prática, o corte censitário. Segundo a matéria publicada na página do Tribunal Superior Eleitoral (leia a integra aqui), ”a estimativa de tesoureiros e coordenadores é de que as eleições de 2010 sejam as mais vitaminadas da história brasileira. Somente os recursos destinados diretamente às campanhas de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) somariam cerca de R$ 500 milhões. Outros R$ 500 milhões seriam repassados aos estados e ao DF para candidaturas majoritárias que garantam palanques aos dois principais postulantes ao Planalto. Para ter alguma chance de vitória, o patamar mínimo de gastos seria de, pelo menos, R$ 100 milhões, valor almejado pelo deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE)”.  

A democracia formal é exercida, mas a material é absolutamente evitada. Com todas as barreiras políticas, econômicas e sociais a evitar a participação e a representação dos interesses populares é de surpreender o medo que as elites ainda nutrem das urnas. 

A reforma política é tema central que deve integrar a agenda de todos aqueles que lutam por uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna, na qual  se assegure a todos, no mínimo, os direitos fundamentais e oportunidades iguais.

domingo, 18 de abril de 2010

Guerra das pesquisas sinaliza que o jogo eleitoral será pesadíssimo

Acho desperdício de tempo discutir o mérito das pesquisas eleitorais, especialmente faltando muito tempo para o pleito. Além disso, pautar a discussão política pelas pesquisas ajuda a limitar ainda mais o já restrito espaço democrático existente no nosso sistema político eleitoral, cada vez mais condicionado pelo poder financeiro e midiático. As últimas pesquisas do DataFOLHA, no entanto, merecem um comentário não pelos resultados, mas pela ação do baronato midiático desencadeada a partir da sua divulgação. Vejamos os fatos:

Os institutos Vox Populi e Sensus vinham apontando o rápido e contínuo crescimento da candidatura governista para o desespero do tucanato. O DataFOLHA, instituto pertencente ao Grupo Folha de São Paulo, publicou em 25/26 de março pesquisa em sentido oposto, apontando uma diferença de 9 pontos em prol do tucano. Essa notícia foi vital para levantar o ânimo do tucanato e salvar a festa de lançamento da candidatura SERRA.

O resultado do DataFOLHA foi logo contestado pela publicação da pesquisa Sensus, promovida entre o dia 05 e 09 de abril, que apontou empate técnico entre DILMA e SERRA. Tais discrepâncias em resultados de pesquisas não são novidade na história política do país. O fato novo e significativo é a ação  sincronizada e virulenta desencadeada pelo baronato midiático a partir de então. Muito esforço e manchetes foram produzidas tanto para promover a divulgação do resultado de seu interesse quanto para constestar e desacreditar os institutos com resultados adversos.

O leitor menos atento poderia contestar qualquer vantagem em liderar as pesquisas nessa etapa do processo eleitoral, não atribuindo qualquer valor estratégico a esse objetivo. Realmente, se o debate fosse balizado por projetos políticos e posições ideológicas não haveria nenhum. Mas, o processo eleitoral brasileiro ainda é fundamentalmente influenciado por oligarquias regionais, interesses clientelistas e fisiológicos.

Pois vamos clarear as coisas. Num momento em que estão se consolidando as alianças e apoios regionais,  se mostrar eleitoralmente viável é  vital para a candidatura SERRA.  A chance de vitória é um argumento decisivo para obter a adesão de muitas lideranças regionais com pouca identidade com o projeto tucano,  movidas por alta dose de pragmatismo. Sem esse trunfo, um número expressivo de possíveis apoiadores de SERRA, muitos dos quais já não demonstram entusiasmo com a candidatura tucana, optariam  por  não enfrentar a candidata de um governo incontestavelmente popular como o governo LULA.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Após condenação, RBS veicula campanha contra o assédio moral


Após o Tribunal Superior do Trabalho ter condenado o Grupo RBS em 300 mil reais por dano moral coletivo, os veículos do grupo passaram a veicular campanha contra o assédio moral promovida pelo Ministério Público do Trabalho. A decisão do TST considerou "a gravidade do ato, o alto grau de culpabilidade da ré, o grande número de empregados vitimados pelo assédio moral, a resistência da ré às negociações e o descaso da direção da empresa" (saiba mais clicando aqui) 

Basta saber se a iniciativa foi voluntária ou coercitiva?

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Fogaça finge que não é Fogaça

Simplesmente dói nos ouvidos a reedição do discurso da pacificação do Estado pelo ex-prefeito José Fogaça (PMDB) na propaganda partidária vinculada pela televisão. Fogaça apoiou e seu partido integrou 3 dos  4 últimos governos gaúchos. Participou ativamente do governo Britto (PMDB) e Rigotto (PMDB) e seu partido foi a principal força de sustentação do trágico governo YEDA (PSDB).

Novamente, Fogaça se omite e age como se não tivesse nenhuma responsabilidade sobre as consequências do projeto político que hegemonizou o estado nas últimas décadas. Fogaça finge que não é Fogaça, apostando na desinformação, no esquecimento e na despolitização do debate político eleitoral. Como recurso utiliza os velhos chavões criados pela oligopólio midiático regional para justificar os problemas e evitar a análise das suas causas.

Fogaça fala que vivemos "tempos dificeis" que são tempos de "mudança". Poderia  dizer para quem e por que são tempos dífíceis? E, se realmente quer mudança, poderia desistir da candidatura e votar em um candidato de outro partido, pois seu partido é o principal responsável pelo status quo no Estado.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Parcerias indesejadas


A candidatura Serra (PSDB) terá que conviver com duas parcerias absolutamente indesejáveis: o ex-presidente FHC nacionalmente e a governadora Yeda Crusius regionalmente. Ontem, no encerramento  do autodenominado Fórum da Liberdade, evento totalmente simpático e amistoso ao tucanato, no qual foi defendida incrível ideia que "os direitos humanos não podem se sobrepor ao direito de propriedade", Serra teve mais uma amostra das dificuldades que enfrentará.

A impopularidade da governadora YEDA chegou a tal ponto que até no encontro neoliberal, seu próprio ninho, foi vaiada. Por outro lado, a incontinência verbal do ex-presidente tucano casou novos constrangimentos à candidatura Serra, vinculando ainda mais a imagem do candidato tucano ao famigerado e fracassado ideario neoliberal. 

As pesquisas têm indicado que aproximadamente 50% do eleitorado se recusa a votar em um candidato vinculado com o governo FHC. Serra certamente sabe disso. Contudo, as várias tentativas de esconder FHC têm fracassado. Quanto à governadora YEDA, seguem as tentativas de construir outro palanque em solo gaúcho menos constrangedor ao presidenciável tucano.

terça-feira, 13 de abril de 2010

A crise nas ideias econômicas e a euforia


Carlos Lessa alerta para os perigos da criação de um nova bolha e os limites da atual política econômica. Vale a pena a leitura do artigo publicado pelo Valor Econômico

No Brasil temos a bolha da venda a longo prazo com cláusula de recuperação do bem.

A humanidade saiu dos horrores da II Guerra Mundial. A descolonização e a Declaração dos Direitos do Homem deram alento à periferia do mundo. As Nações Unidas poderiam afastar os fantasmas da guerra, da fome, da doença e estabelecer a marcha em direção ao processo civilizatório. Surgiu a Guerra Fria; foram elevados, de forma explosiva, os gastos militares. O avanço tecnológico e científico foram derivados (e sustentaram) da corrida armamentista. Entretanto, no mundo bipolarizado, alguns países periféricos que não se situaram como satélites das duas potências desfrutaram de algum raio de manobra geopolítica para ensaiar projetos nacionais de desenvolvimento.

Ao sonho do Terceiro Mundo de cobrir a distância entre os padrões de vida do Centro e da Periferia, foram contrapostos dois vetos. A contundência neomalthusiana do Clube de Roma afirmou que a pretensão periférica de aproximar seus padrões de vida aos do Primeiro Mundo era um sonho impossível e inatingível pois o consumo crescente de recursos naturais não renováveis conduziria a humanidade ao Apocalipse. O segundo veto foi enunciado por McNamara, em A Essência da Segurança, onde afirmou que o risco da III Guerra Mundial seria derivado do crescimento demográfico explosivo dos países do Terceiro Mundo: tais países - disse, com a suficiência de potência - seriam incapazes de responder por si próprios aos anseios de suas populações e seriam praguejados por rebeliões, revoltas, golpes de Estado, conflitos internos. A alta fertilidade minava a poupança nacional e a periferia não deveria ter qualquer pretensão ao desenvolvimento.

Com a queda do Muro de Berlim acabou a Guerra Fria. Houve a consolidação definitiva de uma superpotência cujo gasto militar é superior à soma do gasto dos nove outros países que lhe sucedem em despesas bélicas. As super-empresas nascidas no útero da superpotência transbordaram suas filiais por todo o planeta. A moeda dominante, após o definitivo sepultamento da conversibilidade em ouro, passou a ser o indexador de toda a riqueza mundial e o sistema financeiro da superpotência, o eixo da vida das nações.

A retórica do Clube de Roma-MacNamara foi, posteriormente, revestida pelo discurso ambientalista. Em sua versão radical, adverte que o progresso humano é uma falácia e apenas acelera a marcha para a destruição do mundo. Não preconiza abertamente o genocídio, porém ele emana desse discurso. Na vertente não radical, fala-se de um hipotético desenvolvimento sustentável, que deixa implícita a necessidade de conter padrões de vida e supõe a necessidade de um "xerife" mundial.

A hegemonia da superpotência não conduziu à redução das distâncias entre o centro e a periferia. Não emergiram novas políticas mundiais apoiadas pela redução do gasto armamentista. Houve a emergência de um discurso ideológico que ressuscitou as ideias liberais da velha Economia Política clássica inglesa. David Ricardo formulou, como teoria do comércio exterior que cada país, se especializando no que fizesse melhor, levaria a economia mundial a seu máximo esplendor. Essa teoria caiu como uma luva para a Inglaterra de então, pois exportaria suas produções industriais e importaria do resto do mundo os alimentos e matérias primas que necessitasse.

A versão atualizada pelos EUA prega a "globalização". A economia mundial, pelo livre jogo dos mercados e com moedas flutuantes, seria convertida em um espaço para a livre circulação das mercadorias, das empresas, dos capitais e, por si só, caminharia para a civilização. Essa doutrina é perfeita para a superpotência que controla a moeda mundial, dispõe dos principais bancos e do mais forte mercado de capitais e espalhou suas filiais, suas marcas e aspirações de consumo pelo planeta. A atrofia das soberanias nacionais e eventuais pretensões desenvolvimentistas é um corolário do discurso pró-globalização. A hipocrisia neoliberal não preconiza a livre movimentação de força de trabalho e populações. Assim sendo, a questão social fica circunscrita à nação despojada de seus instrumentos discricionários. Cada nação da periferia deve, por esse discurso, confiar na livre movimentação financeira e na total passividade em relação aos procedimentos das frações de capital do exterior. É um corolário congelar os padrões de vida e preservar as distâncias entre o centro e a periferia. O calcanhar de aquiles está na enorme dependência do padrão de vida da disponibilidade de recursos energéticos não renováveis. O Primeiro Mundo consome mais de quatro vezes petróleo por habitante que a periferia mundial. É impossível, frente ao declínio dessas fontes energéticas, reduzir a distância centro-periferia.

É óbvia a contraposição entre o discurso da globalização e o da sustentabilidade da economia mundial. A última crise financeira deveria conduzir a reflexão mundial a uma discussão, em profundidade, desses dois temas.

A revista "Veja" de 24 de março exalta Robert Shiller, que descobre a pólvora: "a natureza humana é prisioneira de impulsos irracionais e, por conseguinte, é uma mentira que os mercados são sempre reacionais e eficientes". Shiller é um economista ultra-conservador que, frente à crise, vai provavelmente investigar técnicas de pesquisa sobre a animalidade que pode dominar mercados e, se construir modelos, poderá ser um candidato ao Prêmio Nobel. O UBS, o maior banco suíço, afirmou em 26/3/2010, que há uma bolha no mercado de ações brasileiro, enquanto, no mesmo dia, o super banco americano JP Morgan afirmou que a economia no Brasil está aquecida e o real está supervalorizado.

Esses avisos estão na contramão da euforia brasileira. Os dois arautos do superaquecimento receberam como resposta do Banco Central brasileiro que o Brasil pode impedir um crescimento maior de 2% ao ano, mediante a retirada de incentivos fiscais e aumento da Selic, a taxa básica de juros.

O BC, que apoiou o intenso endividamento das famílias, não se preocupa com a atrofia de empregos de qualidade nem com a queda de renda das famílias endividadas; afinal, sabe que o empresário de bom senso não vai investir em ampliação de capacidade produtiva frente a sua enfática declaração contra crescimento e permanecerá atraído para aplicações rentistas para desfrutar da taxa de juros real brasileira firme no pódium da especulação financeira mundial.

No Brasil, em vez da bolha imobiliária da crise norte-americana, temos a bolha da venda a longo prazo com cláusula de recuperação do bem.

Se o emprego e a renda do endividado com dezenas de prestações não crescerem, a bolha estoura e os financiadores vão ter uma enorme quantidade de veículos sem garagens para armazenamento. Sem investimento produtivo voltado para o mercado interno e a partir de um projeto nacional, o Brasil apresentará ao mundo uma nova forma patológica de "espírito animal" capitalista.

CARLOS FRANCISCO THEODORO MACHADO RIBEIRO de LESSA é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do BNDES.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Toda a liberdade que o dinheiro pode comprar


Novamente estarão reunidos em Porto Alegre, no autodenominado "Fórum da Liberdade", os adeptos mais extremistas do pensamento neoliberal. Avalistas do pensamento político e econômico que ocasionou uma das mais graves crises financeiras da história da humanidade, os discípulos dessa verdadeira seita não se constrangem de promover o velho receituário neoliberal. Em edições anteriores foram propaladas as maravilhas das privatizações, da desregulamentação do mercado financeiro, do fim da legislação trabalhista, dos benefícios do trabalho infantil, da dolarização da economia, do modelo Islandês, da adesão à ALCA, entre outras pérolas.
 
Nessa edição, o encontro neoliberal apresenta como arauto do democracia e da liberdade um dos articuladores do golpe de Estado que chegou a fechar o congresso da Venezuela em 2002. Trata-se do empresário venezuelano Marcel Granier, presidente da RCTV. Além disso, contará com a presença do autodefinido anarcocapitalista David Friedman. Espécie de talibã neoliberal, Friedman defende o fim de qualquer forma de governo, deixando a sociedade a mercê das chamadas regras do livre mercado (ou seria da barbárie?), sem falar do assíduo participante e ex-presidente FHC.

A palavra liberdade nesse Fórum assume um novo sentido, um significado altamente condicionado. A liberdade defendida é a liberdade do dinheiro, determinada pelo valor monetário de cada um. Nessa peculiar concepção os direitos dos indivíduos são limitados a possibilidade comprar a liberdade, e exercidos no limite de quanta liberdade o dinheiro de cada um alcance. A utopia desses senhores é permitir à ínfima minoria da população, detentora do capital, a possibilidade de fazer o que bem entender, independente das consequências aos demais, deixando a imensa maioria a opressão e desemparo de um mundo do salve-se quem puder.

Tudo sobre o olhar simpático e acrítico do oligopólio midiático regional e de patrocinadores muito significativos.

Revista VEJA aproveita tragédia para fazer política

Pescado do sempre atual blog Com Texto Livre , originalmente publicado pelo blog Terra Brasilis

Capa da Edição 2160 • 14 de abril de 2010


Capa da Edição 2151 / 10 de fevereiro de 2010


Eu poderia encher esse post com frases de efeito, tipo "A veja é parcial",

Eu poderia encher esse post com frases de efeito, tipo "A veja é parcial", "pratica um "jornalismo(?) capenga", "Age com interesses escusos, beneficiando todos os candidatos contra Lula", etc, etc, etc.

Mas, diante do flagrante explícito, duas imagens bastam! Esse tipo de postura dá náuseas. E não precisamos considerar que temos um pouco mais de inteligência para observar isso. O que nos deixa indignados é ouvir os assinantes da revista repetirem, feito papagaio, o que é ditado pela revista. Aí, nesse momento, dá pra saber quem é o bobo na estória!

Jornalismo é a atividade profissional que consiste em lidar com notícias, dados factuais e divulgação de informações. Também define-se o Jornalismo como a prática de coletar, redigir, editar e publicar informações sobre eventos atuais. Jornalismo é uma atividade de Comunicação.

O que a "veja" praticou aqui? Informações sobre fatores atmosféricos? Ora, a mesma combinação de fatores atmosféricos que causaram as chuvas em São Paulo, causaram as chuvas também no Rio, e causam em outras partes do Mundo (graças a Deus). Porém não é necessário o Jornalismo tratar disso com ênfase numa revista da linha editorial de "veja", sobre "fenômenos atmosféricos". Foi "forçar a barra" em São Paulo para blindar o "candidato da Mídia", e, no oposto, no Rio, para dar tom de incompetência dos Políticos da base de apoio ao Lula.

Hoje, o Rio sofre as conseqüências dessa chuva e outras ainda por vir e se é culpa ou omissão dos governantes, não seria apenas dos atuais, na atual gestão. Seria mais honesto dar nome aos bois, aquela manada que ficou 16 anos no governo do Rio. Mas assim, seria pedir muito.

Atinge-se Lula por tabela. Manda-se às favas a ética, a vergonha de ser tão parcial e a linha da necessária credibilidade (ou ausência dela) de uma revista que tinha a obrigação de fazer apenas JORNALISMO.

domingo, 11 de abril de 2010

FHC lança SERRA à presidência, confirmando eleição plebiscitária



O lançamento da candidatura do tucano José Serra à presidência não poderia ter sido mais simbólica e favorável à candidata da situação, Dilma Roussef. Lançado pelo impopular FHC, com a presença de Rodrigo Maia dos DEMOcratas ao lado, a própria imagem de SERRA mostrava certo desconforto. A candidatura SERRA está definitivamente vinculada ao passado, comprometida com o retorno do projeto do tucanato dos anos FHC.

Na ausência de uma terceira via, a eleição colocará ao País duas alternativas: a continuidade do governo Lula ou a volta dos sombrios anos de FHC. Nada poderia ter sido pior para SERRA.

Como se não bastasse, o governador de Minas, Aécio Neves, ainda relembrou a agenda maldita do tucanato, colando em SERRA, já no lançamento da candidatura, as privatizações do tucanato. Tema maldito que foi ignorado pelo próprio FHC no evento. Aécio afirmou:

"Privatizamos, sim, setores que precisavam ser, como a telefonia (...), que negaram espaço à eficiência". E iremos privatizar, se necessário.

O governador mineiro deu a deixa e fez a alegria de Lula e Dilma. Em ato no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Dilma afirmou:

"Não permitirei, se tiver forças para isto, que o patrimônio nacional, representado por suas riquezas naturais e suas empresas públicas, seja dilapidado e partido em pedaços. Tenham certeza de que nunca, jamais me verão tomando decisões ou assumindo posições que signifiquem a entrega das riquezas nacionais a quem quer que seja" 

Lula completou:

"Se não fosse o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o BNDES, nós teríamos sucumbido à crise econômica do ano passado".

Não podendo esconder FHC e com o tipo de apoio que seu correligionário Aécio Neves vem oferecendo, o esforço de SERRA para chegar ao Palácio do Planalto não será nada fácil.

sábado, 10 de abril de 2010

À mestra Maria da Conceição Tavares, com carinho

Pescado do Opera Mundi

Eu pessoalmente já fui para a cadeia, sem nem saber por que, dado que sou apenas uma rebelde, pelo que escrevo, pelo que esbravejo... Mas a voces quero dizer o seguinte: já estou velha e cansada, mas não desisti. Não desiti! Eu acho que tem que estudar mais, aprofundar, aprofundar a análise, batalhar”.

Maria da C. Tavares, Jornal dos Economistas, Corecon RJ n181, p: 8 e 11


Maria da Conceição Tavares completa 80 anos no dia 24 de abril de 2010. Matemática, economista, intelectual com vasta formação histórica, filosófica e literária, professora, militante, deputada federal, torcedora fanática do Vasco, e admiradora da Portela, Maria da Conceição se transformou nos últimos 50 anos numa figura publica emblemática e referência decisiva dentro da vida cultural e intelectual brasileira.

Conceição nasceu em um povoado no interior de Portugal, perto de Anádia, na região de Aveiro. A família da mãe era católica e monarquista, mas o pai era anarquista e a divisão familiar, ideológica e política, marcou toda a sua infância, vivida em plena ditadura salazarista e durante a Guerra Civil espanhola.

Em 1953, Maria da Conceição se graduou em Matemática na Univesidade de Lisboa e pouco depois se mudou para o Brasil, aos 23 anos de idade, alguns meses antes do suicídio de Getúlio Vargas. Em vários depoimentos sobre sua vida, Conceição confessa que se deixou envolver imediatamente pelo “otimismo brasileiro da década de 1950”, e pela intelectualidade carioca, apaixonada pelo sonho de Brasília, do Plano de Metas, da Bossa Nova e do Desenvolvimentismo, cantado em verso e prosa nos salões intelectuais do Rio de Janeiro, liderados pela geração de Darcy Ribeiro, Mario Pedrosa e Aníbal Machado. Permaneceu ao lado dos nacional-desenvolvimentistas do ISEB e da geração de cientistas que começava a se reunir naquela época em torno da SBPC.

Em 1960, Maria da Conceição Tavares se formou em Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde foi aluna e assistente de Otavio Gouveia de Bulhões, ao mesmo tempo em que trabalhava com Inácio Rangel e com os economistas heterodoxos do BNDE. Pouco depois, já no escritório da CEPAL, no Rio de Janeiro, Conceição estabeleceu relações pessoais e intelectuais definitivas com Celso Furtado, Aníbal Pinto, e Raul Prebish. E foi assim, com um pé na ortodoxia neoclássica, o outro na heterodoxia estruturalista, e com uma forte formação marxista e keynesiana, que Maria da Conceição ingressou no debate econômico latino-americano, ao publicar, em 1963, um artigo clássico sobre o “auge e o declínio do processo de substituição de importações”. Nele ela explicava, de forma pioneira, os limites estruturais da estratégia de industrialização que era preconizada – naquele momento – por quase todos os economistas desenvolvimentistas.

A partir daí, e nas décadas seguintes, Conceição participou de quase todas as grandes polêmicas econômicas do Brasil e do continente: ainda nos anos 1960 ela criticou a “tese estagnacionista” de Celso Furtado e dos “teóricos da dependência”; nos anos 1970, denunciou os limites financeiros do modelo de crescimento adotado pelo governo militar brasileiro; no início dos anos 1980 participou intensamente da discussão sobre a origem e a natureza da crise econômica e da hiper-inflação no Brasil e durante a década de 1990 escreveu inúmeros artigos e livros criticando as políticas e reformas neoliberais associadas à ideologia da globalização.

Por fim, Maria da Conceição escreveu dois trabalhos de fôlego sobre o “movimento cíclico da economia brasileira”, que se transformaram em teses de doutoramento, em 1974, na Unicamp, e de Livre Docência na UFRJ, em 1977. Além disso, nas décadas de 1980 e 1990, Conceição participou do debate internacional sobre a “crise da hegemonia americana”, inaugurando o campo da economia política internacional no Brasil. Neste período, Conceição foi professora, sucessivamente, da UFRJ, FGV-RJ, CEPAL, Universidade do Chile, Universidade Nacional do Mexico e Universidade de Campinas, onde teve papel decisivo, na formação da sua escola de economia.

Depois do Golpe Militar de 1964, Conceição viveu no Chile, México e França, antes de voltar ao Rio de Janeiro e ser presa, em 1974. No Chile, Conceição participou da equipe econômica do governo de Salvador Allende e depois, já de volta ao Rio, militou na luta pela redemocratização brasileira dentro do PMDB, onde ajudou a formular o primeiro programa de governo, “Mudança e Esperança”, escrito em 1982. Uma década depois Conceição ingressou no Partido dos Trabalhadores e foi eleita deputada federal pelo Rio de Janeiro em 1994.

Homenagem

Hoje, olhando em perspectiva, se pode ver com claridade o papel decisivo que suas ideias tiveram na formação do “pensamento econômico da Unicamp”, atualmente hegemônico dentro do segundo governo Lula e também, na inflexão tardia e “desenvolvimentista” do PT, partido que se formou no início dos anos 1980, sem nenhuma concepção econômica própria, e sob forte influência das idéias anti-estatistas, anti-nacionalistas e anti-getulistas de quase toda a intelectualidade paulista, liberal e marxista, desde os anos 1950.

Somando e subtraindo, Maria da Conceição Tavares, em toda a sua vida, foi sobretudo uma professora e uma humanista, que ensinou várias gerações – dentro e fora do Brasil – a pensarem o mundo com paixão, mas com absoluto rigor analítico; com coragem, mas com total lucidez; com espírito critico, mas com grande otimismo histórico; com rebeldia anárquica, mas com um profundo sentido de compromisso com o seu povo e com as angustias do seu tempo.

Além disto, em todos os lugares onde esteve, Conceição foi sempre uma mente provocadora e incapaz de acovardar-se ou de negar o seu próprio passado Poucos professores no mundo ao chegar aos 80 anos poderão assistir – como ela – uma eleição da importância da que ocorrerá no Brasil, em 2010, e saber que os dois principais candidatos à presidência da República foram seus alunos e se consideram, até hoje, seus discípulos. Parabéns e obrigado, Maria da Conceição.

*José Luís Fiori é professor titular do Instituto de Economia da UFRJ

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Mídia corporativa não quer saber da corrupção na Secretaria da Saúde de Porto Alegre

O Ministério Público apresentou à justiça denúncia contra os acusados da execução do ex-Secretário da Saúde de Porto Alegre, Eliseu Santos. A execução teria sido planejada por uma verdadeira organização criminosa que operava um esquema de corrupção na Saúde municipal. Um fato de gravidade impar, sob todos os pontos de vista.

Contudo, desde então, o oligopólio midiático regional trata de todo o tipo de questão secundária que permita evitar o motivo do crime: a corrupção na Secretária da Saúde de Porto Alegre. Para evitar o assunto pauta a discussão sobre a investigação criminal, os roubos de carro, as relações da Polícia com o Ministério Público, entre outros. A existência de um esquema organizado de corrupção numa pasta importante do governo municipal, capaz de ordenar uma execução, não interessa à mídia corporativa regional. 

Impossível deixar de suspeitar sobre as razões desse estranho comportamento. Onde as investigações desse esquema de corrupção podem chegar? Quais relações não interessam revelar? Quem se pretende proteger? Essas são perguntas inevitáveis e a sociedade tem o direito de conhecer as respostas.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

RBS usa velha tática dos "especialistas" para defender projeto de seu interesse


O grupo RBS usa novamente uma velha técnica para disfarçar os seus interesses e posição ideológica. Falo da utilização dos famosos "especialistas" pela midia corporativa. A idéia básica é dar um verniz de neutralidade técnica para defender interesses e posições ideológicas inconfessáveis. Já tratamos desse assunto aqui no blog (veja aqui)

Desta vez, o grupo midiático, que também atua no setor imobiliário, faz a defesa do projeto da governadora YEDA (PSDB) que pretende permutar o terreno da FASE (antiga FEBEM). A governadora tucana pretende trocar a valosíssima área, avaliada em aproximadamente R$ 160 milhões, localizada próxima ao Beira Rio e de frente para o Guaíba,  por alguns terrenos localizados no interior do Estado, onde seriam construídas novas unidades da FASE. 

O projeto foi construído sem maior cobertura ou destaque pelo oligopólio midiático regional. Agora, diante da resistência da Assembleia Legislativa em aprovar apressadamente um projeto de elevado interesse público, os veículos do Grupo RBS correm em noticiar que a suspensão da tramitação do projeto é vista com temor pelos "especialistas". O grupo midiático se escuda numa suposta preocupação  com a situação dos menores infratores para defender o projeto que beneficiará algum empreendedor imobiliário. 

Curiosamente, a RBS não demonstra qualquer preocupação com as questões ambientais e urbanísticas, nem com a defesa do patrimônio público ou com situação dos moradores que habitam atualmente parte dessa área. Muito mesmo se questiona as razões da realização de uma permuta ao invés de leilão do imóvel, que garantiria isonomia entre os interessados e a obtenção do melhor preço. As razões e preocupações dos deputados (veja aqui) também não são do interesse do grupo midiático.

Fica o questionamento: será que o GRUPO RBS aceitaria negociar um imóvel do seu patrimônio, com esse valor, da mesma forma?

terça-feira, 6 de abril de 2010

Projeto de especulação imobiliária de YEDA encontra resistência na Assembleia Legislativa

 
Segundo notícia publicada pela Agência de Notícias da Assembleia, a primeira reunião do Grupo de Trabalho para discutir a proposta de alienação e permuta da área da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase), realizada na tarde da segunda-feira (05/04), encerrou propondo que o Projeto de Lei tenha sua tramitação suspensa até que sejam incorporadas as sugestões apresentadas pelo conjunto de entidades do GT.

No encontro, coordenado pela vice-presidente da Comissão de Serviços Públicos, deputada Stela Farias, o conjunto das entidades presentes apontou os principais problemas do PL 388/2009 apresentado pelo governo do Estado. A proposta não prevê em seu texto a destinação das mais de 1.500 famílias que vivem na área da Fase na Avenida Padre Cacique a ser permutada. Também não apresenta detalhes sobre a construção dos espaços descentralizados para atendimento das crianças e adolescentes infratores. O GT também verificou que apesar de solicitar autorização da Assembleia para alienar a área, o PL também não menciona nenhuma avaliação imobiliária da área e desconsidera as questões ambientais envolvidas.

O diretor do Departamento de Direitos Humanos e Cidadania da Secretaria da Justiça e Desenvolvimento Social, Plínio Zalewski, que representaria o governo do Estado no GT, enviou correspondência à Comissão de Serviços Públicos alegando pouca antecedência na data da reunião, para não comparecer. A atitude foi bastante criticada pelos presentes que aguardavam a presença do representante para encaminhar as sugestões à proposta do Executivo estadual.

Nós propomos a criação do GT, que foi prontamente acolhida pelo representante do Palácio Piratini, exatamente para buscar o diálogo entre as partes e acima de tudo, resguardar o interesse público, o interesse das crianças e adolescentes infratores, o interesse dos moradores e o resguardo das áreas de preservação ambiental. Há muitas questões relacionadas à área da Fase que não foram esclarecidas pela proposta do governo. Há questões que envolvem o direito à moradia e não podem ser ignoradas, ao mesmo tempo em que temos a situação dos menores infratores, que contraria frontalmente as normas de atendimento estabelecidas pelo Sistema Nacional de Atendimento Sócio-educativo. Não necessariamente são elementos que se contrapõem, mas somente o diálogo pode harmonizá-los. A ausência de representantes do governo do Estado, não contribui para avançarmos na busca de uma solução democrática para todos” cobrou Stela.

O GT foi sugerido pela parlamentar e criado por deliberação da audiência pública da Comissão de Serviços Públicos, no dia 11 de março, para reunir as diferentes entidades ligadas ao tema oferecendo contribuições a proposta do Executivo.

Estiveram presentes na reunião, os deputados Raul Carrion (PCdoB) e Raul Pont (PT), representantes Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedica), do Departamento Municipal de Habitação de Porto Alegre (Demhab), da Secretaria de Planejamento de Porto Alegre, do Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul, do SEMAPI , da APEDEMA, Central de Movimentos Populares, União das Associações de Moradores de Porto Alegre (Uampa), das associações de moradores da Vila Gaúcha, Vila Ecológica, Vila União Santa Teresa, Vila Padre Cacique e Vila Figueira.

A próxima reunião do GT acontece no dia 19 de abril na Assembleia Legislativa.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O porquê da Petrobras ser indispensável para o desenvolvimento do país

Do Blog do Brizola Neto (Tijolaço.com):


A Chevron e a Exxon iam fazer isso?

No insuspeito Estadão de hoje:

Para que a falta de mão de obra qualificada não emperre os planos da Petrobrás com o pré-sal, empresa e governo criaram o Programa Nacional de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo Gás (Prominp), que pretende formar nos próximos três anos 207 mil profissionais. A primeira fase deve qualificar 78 mil pessoas.

Os cursos são realizados em 15 Estados onde há projetos no setor, em parceria com 80 instituições de ensino profissionalizante. A formação oferecida vai desde o nível básico, com cursos do Senai, até nível superior, por meio das universidades públicas. “Nunca vi nada parecido com o que a Petrobrás está fazendo para formar mão de obra”, disse o professor da Escola Politécnica da USP, José Roberto Cardoso.

Para participar dos cursos, é preciso passar por uma seleção. O interesse em que os candidatos estejam preparados é tanto, que a Petrobrás articula com prefeituras cursos básicos, de matemática e português, para que o candidato tenha o melhor aproveitamento. Os desempregados ganham bolsa para estudar. Com 25 estaleiros no País, a indústria naval emprega hoje 45 mil profissionais. Dez anos atrás, eram 2 mil pessoas.

Taí algo para os que louvam a “eficiência” e a “competitividade” das multis petroleiras rebaterem. Qual delas ia fazer isso? E notem que não são trabalhadores para a petrobras, diretamente, mas para seus fornecedores e prestadores de serviço. Ia saír um dólar das multis para fazer isso? Ia, sim, uns trocados, só para fazerem marketing de responsabilidade social.

Eles adoram falar que a mão-de-obra no Brasil é desqualificada, mas não querem gastar nada para mudar isso. Como eu disse outro dia aqui, querem operário “japonês”, mas querem grátis.

sábado, 3 de abril de 2010

Oligopólio midiático regional pratica "vale tudo" para blindar seus candidatos

O esquema de corrupção na Secretária Municipal da Sáude de Porto Alegre apontado como causa da execução encomendada do ex-vice-prefeito Eliseu Santos não interessa ao oligopólio midiático regional. Não interessa cobrar explicações do governo Fogaça ou exigir investigações sobre o caso. Tudo é tratado como um homicídio normal e corriqueiro, fruto da violência do cotidiano.

As seguidas notícias de execuções encomendadas e os problema da investigação promovida pela Polícia tampouco geram preocupações do baronato midiático. Embora vários elementos apontem nesse sentido, não há afirmações do tipo "crise na segurança pública", "partidarização das polícias" ou "caos na segurança" comuns num passado próximo. Tudo é relativizado e desvinculado dos governos aliados. Os assombrosos fatos que envolvem os governos Fogaça e Yeda são tratados como simples "disputa entre poderes" (Ministério Público X Polícia).

A mídia corporativa não tem escrúpulos quando o objetivo é blindar seus candidatos. "Vale tudo", inclusive criar versões para desinformar a sociedade. Esse habitual modus operandi implica em verdadeira cumplicidade com as organizações criminosas dedicadas a predar a sociedade e saquear o patrimônio público. A questão é até quando conseguirão agir dessa forma sem reação contundente da sociedade?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Governo Yeda agora faz propaganda dos problemas que criou

Por mais incrível que possa parecer, o governo YEDA está fazendo propaganda dos problemas que criou. Basta acessar a página do governo do Estado (clique aqui), que por sinal mais parece uma página pessoal da governadora, para se deparar com essa incrível chamada:

Estado investe R$ 7 milhões para eliminar o uso de contêineres em escolas

A famigerada e condenável prática de utilização de contêineres como escola foi criação do governo YEDA. Um problema criado pelo governo tucano que foi denunciado inúmeras vezes pelo Sindicato dos Professores, pelos pais e alunos da rede pública. O grau de desespero do governo YEDA para criar factóides é tão grande a ponto de gerar situações esdrúxulas como essa. Isso para não falar de obras que são anunciadas todos os anos mas não são executadas, a exemplo da duplicação da RS 118. Tudo sobre o silêncio e cumplicidade do oligopólio midiático regional, o verdadeiro partido político de YEDA.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

CPI da corrupção na Secretária da Saúde é inevitável


A denúncia oferecida pelo Ministério Público contra oito supostos envolvidos na morte do ex-secretário da saúde de Porto Alegre, Eliseu Santos, casou uma reviravolta com muitas implicações. Segundo o Ministério Público, o crime teria sido motivado por vingança pelo encerramento de um esquema de corrupção envolvendo uma empresa de vigilância e segurança. Entre os acusados está um ex-assessor de Eliseu Santos na Secretaria da Saúde que seria responsável pela cobrança de propina. 

A versão oferecida pelo Ministério Público com base nas provas e investigações reforça o pedido de instalação de uma CPI na Câmara Municipal para investigar as denúncias de corrupção na Secretaria Municipal de Saúde. Diante dos fatos a CPI será inevitável, sob pena de causar sério desgaste a base de sustentação do governo Fogaça (PMDB).

Novamente, a mídia corporativa sai desmoralizada. Sem questionamentos, o oligopólio midiático regional tratou o crime como latrocínio, chegando a afirmar que os defensores da tese de execução eram adeptos da "teoria da conspiração". Resta ainda a seguinte questão: "Por que a presa e engajamento dos órgãos de segurança pública e da mídia em sustentar a versão de latrocínio como motivo do assassinato de Eliseu Santos?" Aguardemos os próximos capítulos que prometem ser bastante reveladores.

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