sexta-feira, 31 de julho de 2009
Estratégia do avestruz
Ao se furtar de sua missão constitucional de fiscalizar o executivo, a base governista, especialmente o PMDB, puxa para si o desgaste de um governo com índices de impopularidade recordes. Além disso, permite especulações sobre seu envolvimento direto nos fatos objeto das investigações pelas autoridades competentes. Depois disso, não será nada fácil se descolar do governo tucano, apresentando-se como algo novo ao eleitor, como tem sido prática habitual dessas agremiações.
Capitaneando esse movimento se destaca "o reserva ético do Senado". Denominado assim pela mídia oligopolista regional, o Senador Pedro Simon tem sido figura chave na articulação da governabilidade do governo tucano. O Senador adora aparecer nos holofotes da mídia hegemônica com discursos moralistas afinados aos interesses dos setores mais conservadores da sociedade brasileira. Mas aqui no RS se nega a apoiar a criação de uma CPI para investigar as cada vez maiores e mais contundentes denúncias de corrupção contra o governo do PSDB.
O Senador que prontamente pediu o afastamento do presidente do Senado, seu correligionário José Sarney, nem cogita pedir o afastamento dos também correligionários indiciados Eliseu Padilha e Marco Alba, Secretário Estadual da Habitação. Postura típica de "um reserva ético" que nunca chegará a titular.
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Fogaça vai a Workshop em Washington mostrar o que não fez
O prefeito José Fogaça (PMDB) não possui muitas realizações a mostrar. Se abordasse esse tema, a sua palestra não duraria mais que um minuto. Poderia falar das lixeiras que colocou na cidade e do camelódromo. Eu pelo menos não me lembro de nenhuma outra.
Pelo conteúdo da notícia se presume que a participação do prefeito Fogaça ainda é fruto do prestígio internacional de Porto Alegre. Prestígio conquistado por seu protagonismo na democracia participativa. Ousadia das gestões anteriores que os partidos que ocupam o Paço Municipal combateram duramente e o governo Fogaça só fez enfraquecer.
Imagino que deva ter sido uma participação curta, pobre e que, provavelmente, não se repetirá.
O pré-sal político é nosso
quarta-feira, 29 de julho de 2009
Boas notícias derrubam o oligopólio da mídia
Descontentes com as boas notícias para o país e suas implicações nas próximas eleições, o partido midiático se viu forçado a produzir mais um factóide. O destaque das manchetes passou para "o segundo déficit primário seguido" nas contas do governo federal.
A pauta soa quase como uma reclamação contra os bons resultados da economia brasileira. Afinal, todos os países do mundo combateram a crise econômica aumentando o gasto público. Se o Brasil não tivesse reduzido impostos e aumentado os gastos, provavelmente, a economia demoraria mais a se recuperar. A midia oligopolista iria se deliciar com críticas a esse respeito. Como as medidas do governo foram corretas e produziram resultados, as críticas se voltam contra os "efeitos colaterais" naturais dessas medidas.
Como diz o ditado popular condenado por ter cão ou condenado por não ter cão.
A segurança pública cada dia pior
Ontem no final da tarde a violência atingiu até o Centro Administrativo do Estado, local onde funcionam diversas secretarias e o gabinete da própria governadora Yeda Crusius. Assaltantes renderam e roubaram os seguranças do local.
Em outros tempos, a mídia oligopolista regional fomentou a criação de uma CPI da segurança pública com base em fatos muito menos relevantes dos ocorridos recentemente. Hoje vigora um silêncio constrangedor sobre o assunto.
terça-feira, 28 de julho de 2009
A fuga
Telefonia lidera as reclamações no PROCON
Nesse período foram contabilizadas 607.746 demandas relativas ao setor de telecomunicações. O segmento de telefonia celular respondeu por 32,2% dos atendimentos, e o de telefonia fixa, 32,1%. Juntos, esses segmentos responderam por mais da metade (64,4%) do total de demandas do setor.
Entretanto, apesar de aparecerem empatados em número de demandas, o estudo destaca que o mercado de telefonia fixa equivale a pouco mais de um quarto do mercado de telefonia celular, "o que sugere um pior desempenho do segmento telefonia fixa".
Cobrança indevida
Em relação aos motivos das reclamações, três principais problemas se repetem para os segmentos de telefonia fixa e celular. Em primeiro lugar estão problemas relacionados à cobrança indevida ou abusiva, que representam 47,6% das demandas de telefonia fixa, e 36,6% das demandas de telefonia celular.
Segundo o estudo, "melhorar a clareza dos dados de cobrança e a eficiência dos procedimentos associados a ela talvez modificasse o atual quadro, que representam mais de 60% das demandas do segmento de Telefonia Fixa e quase metade das demandas do segmento de Telefonia Celular."
Dúvidas sobre cobranças, valores e reajustes responderam por 13,6% dos problemas de telefonia fixa, ocupando a segunda posição neste segmento, e questões relacionadas a contratos, como rescisão ou alteração unilateral, foram responsáveis por 11,9% das demandas, ocupando a terceira posição.
Na telefonia celular os dois últimos postos se invertem, e problemas com contratos ocupam a segunda posição, com 11,9%, e dúvidas sobre cobranças, valores e reajustes aparecem em terceiro, com 11% das reclamações.
Futuro sombrio
De acordo com a pesquisa, os relatos de consumidores ressaltam que "o processo de apuração dos débitos apresenta falhas reiteradas que não são corrigidas pelos fornecedores como, por exemplo, a cobrança de serviços já cancelados."
Outra "prática conhecida" das empresas de telefonia, aponta o levantamento, é "embutir nos débitos a cobrança de serviços que não foram contratados ou cuja contratação ocorreu de forma tácita sem que fosse dada a correta ostensividade e transparência sobre todos os produtos contemplados pelo contrato." Falhas recorrentes no fornecimento dos serviços também foram mencionadas.
O percentual de reclamações relativas à telefonia se manteve no período pesquisado, "o que elimina de um horizonte próximo qualquer expectativa de redução de demanda" destacou o estudo.
Segundo reportagem da Folha, diante do elevado número de queixas de consumidores contra empresas de telefonia, o Ministério da Justiça ameaça fechar lojas de operadoras de celular e suspender serviços até que as falhas sejam resolvidas.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Multinacionais resistem a medidas de controle de agrotóxicos13
Estrangeiros avançam sobre terras da Amazônia
domingo, 26 de julho de 2009
O incrível mundo das manchetes
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u599607.shtml
Considerando que no mesmo dia várias matérias alertavam para o risco de guerra civil em Honduras, li a manchete e imediatamente pensei que Zelaya estava iniciando uma guerra de guerrilhas contra os golpistas hondurenhos com objetivo de ser reconduzido ao governo para o qual foi eleito democraticamente.
Nada disso. O presidente hondurenho apenas se dirigiu a fronteira da Nicarágua com Honduras acompanhado de jornalistas, colaboradores e com o apoio político de alguns ex-guerrilheiros sandinistas, todos já em idade avançada para qualquer façanha bélica, com objetivo de pressionar pelo seu retorno ao país.
Mas para quem já viu na ditadura brasileira uma "ditabranda" e a ajudou a disseminar o suposto desejo chavista do presidente Lula ao"terceiro mandato" isso não surpreende mais.
Dica de Cinema: Um dia sem mexicanos
sábado, 25 de julho de 2009
Estadão: Cronologia do caso Yeda
Página do Estadão: http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,veja-a-cronologia-do-caso-yeda-crusius-no-rio-grande-do-sul,369726,0.htm
Veja as acusações contra o governo gaúcho:
Em novembro de 2007
Operação Rodin, da PF, aponta fraude de R$ 44 milhões no Detran gaúcho. Entre os 14 presos, o empresário tucano Lair Ferst, ligado à cúpula da campanha que elegeu Yeda em 2006.
Em fevereiro de 2008Assembleia abre a CPI do Detran para investigar o esquema, que consistia na cobrança de preços superfaturados por fundações e empresas contratadas sem licitação
Em abril de 2008
À CPI um delegado da Polícia Civil diz ter recebido a informação de que Lair Ferst teria pago R$ 400 mil do custo da casa adquirida por Yeda no fim de 2006. Segundo a tucana, casa foi comprada por R$ 750 mil. Yeda avisa que vai processar o presidente da CPI pela insinuação de que sua casa teria sido paga parcialmente com sobras de campanha.
Em maio de 2008
Justiça Federal abre processo contra 40 pessoas no caso das fraudes no Detran. Empresário Lair Ferst nega ter participado da campanha de Yeda.
Em maio de 2008
Ex-secretário de Segurança Enio Bacci afirma à CPI que governadora soube das irregularidades no Detran no início de 2007 e nada fez. Governo nega.
Em junho de 2008
É divulgada conversa gravada pelo vice de Yeda, Paulo Afonso Feijó (DEM), na qual o chefe da Casa Civil, Cézar Busatto, admitia que partidos aliados eram financiados por órgãos públicos. Gravação provoca a queda de Busatto, do secretário-geral de governo, Delson Martini, e do chefe do escritório do RS em Brasília, Marcelo Cavalcante.
Em junho de 2008
PSOL e PV protocolaram pedido de impeachment da governadora na Assembleia Legislativa sob acusação de improbidade administrativa
Em junho de 2008
Assembleia arquiva pedido de impeachment de Yeda
Em junho de 2008
Gravações da CPI do Detran derrubam quatro da cúpula do governo de Yeda Crusius.
Uma das gravações mostrou dois envolvidos na fraude que desviou R$ 44 milhões da autarquia combinando um jeito de resolver um impasse entre empresas que prestavam serviços superfaturados.
A segunda mostrou o chefe da Casa Civil, Cezar Busatto, admitindo ao vice-governador Paulo Afonso Feijó (DEM) que partidos aliados do governo se financiavam em órgãos públicos.
Em junho de 2008
Em entrevista ao Estado, governadora do Rio Grande do Sul negou acusações e disse que vice se uniu à oposição para tentar derrubá-la. "Não é uma hecatombe só para mim, é para todos", diz Yeda.
Em julho de 2008
PSOL e PV questionam, em representação por improbidade administrativa ao Ministério Público de Contas, a compra da casa de Yeda. Para os partidos, custo de R$ 750 mil não é compatível com os rendimentos de Yeda e do marido, Carlos Crusius, que é professor.
Em julho de 2008
Relatório final da CPI do Detran, aprovado por 9 votos a 3, não cita a governadora e isenta ex-secretários. O relator culpa as mesmas 40 pessoas que já respondem a processo na Justiça Federal
Em agosto de 2008
Um dos 40 a responder ao processo, Lair Ferst diz que pessoas "de dentro e de fora" da administração estadual também participaram ou souberam da fraude no Detran.
Em agosto de 2008
Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul recebe como denúncia representação do Ministério Público Especial que recomenda averiguar a compra da casa da governadora. Advogado tenta explicar como Yeda adquiriu casa.
Em dezembro de 2008
O Ministério Público gaúcho arquiva representação contra a governadora Yeda que apontava possíveis irregularidades na compra de sua casa
Em fevereiro de 2009
Corpo de Marcelo Cavalcante, ex-assessor de Yeda, é encontrado boiando no Lago Paranoá, em Brasília
Em fevereiro de 2009
Em entrevista ao Estado, Yeda diz que "levantaram ofensas e acusações sem prova" contra ela.
Em fevereiro de 2009
PSOL acusa a governadora e seus ex-colaboradores de terem participado ou tomado conhecimento de caixa 2 na campanha eleitoral de 2006 e de usar recursos paralelos e superiores aos informados num contrato de aquisição da sua casa
Em maio de 2009
Segundo a revista Veja, em gravações Marcelo Cavalcante admite ter coletado, após a eleição de 2006, R$ 200 mil de empresas. O dinheiro teria sido entregue ao marido da governadora.
Em maio de 2009
Oposição retoma coleta de assinaturas para abrir CPI sobre o governo Yeda.
Os riscos da volta da direita
Contam com a grana, antes de tudo do grande empresariado paulista. Contam com os votos de São Paulo, que se tornou um estado conservador, egoísta, dominado pela ideologia elitista de 1932, de que são o estado do trabalho e o resto são vagões que a locomotiva tem que carregar. Contam com a despolitização destes anos todos, em que se apóia ao governo Lula, mas uma parte importante prefere, pelo menos até agora, o Serra. Contam com a retração na organização e na mobilização popular. Contam com a imagem de Serra, desvinculada do governo FHC, em que, no entanto, foi ministro econômico durante muito tempo, co-responsável portanto, do Plano Real, das privatizações, da corrupção, das 3 quebras da economia e as correspondentes idas ao FMI, da recessão que se prolongou por vários anos, como decorrência da política imposta pelo FMI e aceita pelo governo.
Conta também com erros do governo, seja na política de comunicação – alimentando as publicidades nos órgãos abertamente opositores, enquanto apóia em proporções muito pequenas os órgãos alternativos, seja estatais ou não. Erros de política de juros alta até bem entrada a crise, atrasando a recuperação da economia. Erros na política de apoio e promoção do agronegócios, em detrimento da reforma agrária, da economia familiar, da auto-suficiência alimentar.
É certo que a oposição não tem discurso que sensibilize ao povo, tanto assim que batem o tempo todo, com seus espaços monopólicos na mídia, mas só conseguem 5% de rejeição ao governo, que tem 80% de apoio. Mas também é certo que o estilo marqueteiro que ganharam todas as campanhas, despolitizam o debate, se Serra se mantiver na liderança das pesquisas, não precisa apresentar propostas, só as imagens maquiadas das “maravilhas” que estaria fazendo em São Paulo, assim como o tom de Aécio de que não é anti Lula, mas pós-Lula, dizendo – como disse e não cumpriu em São Paulo, que manteria os CEUS e outros programas sociais do PT – que vai deixar o que está bom – sempre atribuído ao casalsinho Cardoso.
A direita pode ganhar e se reapropriar do Estado. O governo Lula terá sido um parêntesis, dissonante em muitos aspectos essenciais dos governos das elites dominantes, que retornarão. Ou pode ser uma ponte para sair definitivamente do modelo neoliberal, superar as heranças negativas que sobrevivem, consolidar o que de novo o governo construiu e avançar na construção de um Brasil para todos.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Nos seus 20 anos, OP agoniza com Fogaça
O Governo atual vem diminuindo os recursos para atender às demandas da comunidade e, mesmo assim, tem um baixo nível de execução dos Planos de Investimentos (PIs). Na verdade, a parte substancial dos recursos para investimetnos e serviços do orçamento, passaram a ser definidos pelos secretários do governo através de uma política clientelista.
O resultado dessa equação é: poucos recursos e baixa execução para os planos de investimentos do OP e mais recursos e mais execução para as políticas clientelistas do governo. Vejamos agluns exemplos: de acordo com o balanço do Orçamento da Prefeitura de Porto Alegre, publicado no Diário Oficial de 30 de janeiro de 2009, o total de investimentos, realmente liquidados em 2008, foi de R$ 121,3 milhões. Deste montante apenas 682 mil foram para atender as demandas do OP - 2008, representando somente 0,56%, segundo o jornal de "Olho no Orçamento" da ONG-Cidade.
O movimento social, popular e comunitário e a população da cidade tem lutado na defesa do OP e na denúncia do clientelismo do governo atual. No entanto, mais do que nunca, a sociedade e os movimentos organizados precisam inovar na organização e nas formas de luta, reativando os conselhos populares e os fóruns de serviços nas regiões do Orçamento Participativo, incentivando e apoiando as reivindicações dos conselhos setoriais e temáticos. Também é preciso furar o bloqueio da grande mídia a favor do governo, inovando na política de comunicação através da internet, levando informação e formação à população que acessa os blogs e outras formas de contato eletrônico. Em especial, as denúncias que atingem diretamente a Secretária Municipal da Saúde, objeto de pedido de CPI na Câmara Municipal.
Artigo de autoria de Ubiratan de Souza, economista, um dos coordenadores da implementação do Orçamento Participativo em Porto Alegre e no Estado do Rio Grande do Sul na gestão do governador Olívio Dutra (1999-2003).
quinta-feira, 23 de julho de 2009
A privatização da segurança no governo tucano de Yeda
Por sua vez, as declarações do ex-presidente do DETRAN, Sérgio Buchmann, reforçam as suspeitas de aparelhamento dos órgãos de segurança pública do Estado para espionagem e chantagem política. Fatos anteriormente denunciados pelo próprio ex-ouvidor da Secretaria da Segurança Pública do governo Yeda, Adão Paiani.
No episódio narrado por Buchmann um delegado da polícia civil, acompanhado do chefe de gabinete da governadora e de um diretor da SUSEPE, comparecem na sua residência para avisar da iminente prisão do seu filho. Os visitantes propõem ao ex-diretor do DETRAN que avisasse o filho antes da operação policial. Não precisa se dizer mais nada sobre o assunto.
Nada mais transparente
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Conversa de compadre
Grupo empresarial, por sinal, promotor, mentor e aliado da "progenitora-mor do Estado" (expressão cunhada em escuta telefônica que integra uma das muitas denúncias contra o governo tucano do RS).
Logo de início foi anunciada uma entrevista com o chefe de gabinete da nossa "progenitora-mor", alvo de denúncias originadas no seio do próprio governo Yeda.
Fiquei interessado, pensei que a entrevista poderia contribuir para superar uma das tantas indagações que envolvem o caso. Atento a cada pergunta, espero em vão algum questionamento provocativo do apresentador ao entrevistado.
A entrevista é conduzida cuidadosamente pelo controlado apresentador, com o nítido objetivo de permitir ao denunciado expor sua versão dos fatos sem nenhum sobressalto. A pergunta de encerramento não poderia ser mais amistosa: "O senhor atribui a quê essas denúncias que buscam prejudica-lo?"
Verdadeira conversa de compadre que deixa clara e transparente a cumplicidade desse grupo midiático com o desastrado governo tucano.
“O povo deve contar sua própria história”, afirma ex-guerrilheiro
Ubiratan de Souza – Eu estava com 17 anos em Cachoeira do Sul [RS] quando concorremos ao grêmio estudantil em 1967, em plena ditadura. A nossa chapa defendia a autodeterminação dos povos (estávamos em plena Guerra do Vietnã, então defendíamos que não podia haver intervenção norteamericana), era contra o acordo MEC-USAID [reforma educacional no Brasil acordada entre o Ministério da Educação e o governo dos Estados Unidos que visava transferir recursos para escolas privadas em detrimento do ensino público], além de empunhar bandeiras de liberdade democrática contra o regime. A nossa chapa foi interditada e não pôde concorrer.
Ainda fomos suspensos por dois dias no colégio. Esse foi o primeiro embate contra a ditadura.
Depois, vim para Porto Alegre. Cursei o último ano do científico e fiz o vestibular para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul [UFRGS]. Passei e me incorporei ao movimento estudantil justamente em 1968, que é um ano emblemático não somente pela nossa luta estudantil, mas também pelas greves operárias em Osasco (SP) e Contagem (MG), pela passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro, pelo Maio de 68 na França, pelo assassinato de Che Guevera na Bolívia [1967], pela morte do estudante Edson Luis no restaurante Calabouço [no Rio de Janeiro]... Nossa luta tinha um enfoque no movimento estudantil contra a ditadura e a sua política, como a reforma universitária, mas ao mesmo tempo estávamos combinados com as demais manifestações.
Em dezembro de 1968 foi promulgado o Ato Institucional nº 5 [AI-5], que é o golpe dentro do golpe. Ficou proibido qualquer tipo de manifestação; a repressão – tanto o Dops [Departamento de Ordem Política e Social] quanto os demais organismos militares que se formaram depois, como o DOICodi [Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna] – podiam entrar na casa de qualquer cidadão brasileiro e prender; a tortura foi institucionalizada, as pessoas eram presas e torturadas e não havia nenhuma proteção e nem o habeas corpus. O AI-5 dá o último fechamento à ditadura, depois do grande movimento de massas. E, para aqueles que tinham o ideal de justiça, liberdade, democracia e de buscar uma nova sociedade, não havia outra alternativa, à medida que começaram a ser perseguidos, que não fosse entrar na clandestinidade. E naquela época tu eras perseguido por qualquer motivo.
Se tu eras estudante e te manifestavas em sala de aula com uma opinião, tu já podias ser preso pelo Dops na saída da sala. Se tu eras professor e explanasses alguma reflexão, muitas vezes somente histórica, eras preso, fichado e passavas a ser perseguido. Então, naquele momento fiz a opção de entrar na clandestinidade. Entrei na luta de resistência contra a ditadura, na luta armada, que passou a ser uma legítima defesa daqueles que lutam por liberdade e democracia dentro de um país em que não se tinha mais direito a nada.
Entrei na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), que era comandada pelo capitão Carlos Lamarca. Entrei aqui no Rio Grande do Sul e depois tive o privilégio de conhecê-lo porque fui para o Vale do Ribeira, na Serra do Mar, onde funcionava um campo de treinamento da VPR. Treinar no Brasil evitava que tivéssemos que fazer isso no exterior, correndo o risco de ser preso, e também ajudava a não perdermos a noção da realidade brasileira. No Vale do Ribeira, encontrei o capitão Lamarca e lá tivemos um treinamento guerrilheiro. Eu já tinha tido também uma formação quando prestei serviço militar obrigatório no Exército. Na Serra, nem palmiteiro entrava; a cidade mais próxima era Registro (SP). Tínhamos uma base de apoio em um sítio no pé da montanha, mas a gente se embrenhava na mata. Nesse período, praticamente 70% da população viviam no campo. Então nossa pauta era a luta contra a ditadura a partir da guerrilha
rural. Esse treinamento na zona rural era também para estabelecer bases.
Meses depois a zona foi cercada pelo Exército e tivemos que sair da região. Éramos 18 guerrilheiros; mesmo assim, furamos o cerco de 20 mil soldados e nos espalhamos, alguns vieram para o Rio Grande do Sul e outros para São Paulo e Rio. Eu vim para cá e depois voltei a São Paulo, onde continuei a militância entre 1969 e 1970. Fiquei na zona urbana, onde fazíamos a luta de propaganda armada; vivíamos de expropriações, na medida em que ninguém podia trabalhar já que estávamos sendo todos perseguidos. Tivemos uma atuação tanto política como de ações no sentido de acumular força na cidade para depois voltar ao campo. Naquela época, a tortura aumentou em todos os órgãos de repressão – nos Dops regionais e no DOI-Codi, que era o organismo liderado pelo Exército.
"Mesmo em um ambiente desses ocorrem gestos de solidariedade. Os torturadores não podem controlar todas as pessoas"
Fui preso em outubro de 1970 em uma rua durante uma batida da Operação Bandeirantes (Oban) e levado ao DOI-Codi. Tinha uma delegacia de polícia na fachada e atrás era o DOI-Codi, com celas que ficavam no pátio, e um sobradinho, onde éramos torturados. Sofri tortura com pau-de-arara (onde te botavam de cabeça para baixo pendurado em uma barra de ferro em um cavalete com as mãos e os pés amarrados) e choque elétrico. Me tiravam do pau-de-arara e me colocavam direto na cadeira do dragão (era uma cadeira de metal onde a pessoa ficava sentada e amarrada sem roupa, e com um fio elétrico davam choque). Também tinha palmatória nas mãos e nas pernas. Nos dois primeiros dias de prisão não “baixei” para cela, fiquei somente sendo torturado. E eles iam até a madrugada; somente paravam de torturar quando cansavam. Depois, quando me colocaram na cela, uma vez por dia ainda me levavam para a tortura. Eu estava como desaparecido. Consegui avisar a minha família por meio de uns meninos que acho que foram presos por engano. Pouco antes de serem soltos, consegui repassar um bilhete com o telefone de minha família em Porto Alegre para que avisassem. A minha família foi até São Paulo e os militares negaram que eu estava preso. Meu pai chegou a ir na Oban e se comunicou com um policial que ficava na guarita, em frente à delegacia; deu o meu nome e pediu para que me entregasse uma barra de chocolate. À noite, o guarda foi até a cela onde eu estava preso, avisou que o meu pai esteve ali e me deixou o chocolate. O policial não participava das equipes de tortura e nem de captura; ele estava ali apenas como vigia. Mesmo em um ambiente desses ocorrem gestos de solidariedade. Os torturadores não podem controlar todas as pessoas.
Na época em que fui preso no DOI-Codi, ele era o comandante da Operação Bandeirantes. Ele comandava as três equipes de tortura da Oban, pois cada dia era realizada por uma equipe diferente. A mim ele não torturou, mas entrou durante as sessões em que estive para comandar a tortura. Entrava, mandava parar, conversava com os torturadores e depois, quando ele saía, a tortura recomeçava. Inclusive, fazia o comentário de que, se eu não falasse, a tortura iria continuar.
II - O exílio e a vida fora do Brasil
"Não tinha medo de morrer. E pensava que, se morresse, outras gerações iriam continuar a luta"
Foi uma viagem direta, sem escala, da Varig. Fomos muito bem recebidos lá porque estava no Poder o socialista Salvador Allende, que era um governo democrático e que estava construindo o que chamávamos na época de o socialismo pela via democrática. O ministro das Relações Exteriores nos encontrou no aeroporto e não deixou que descêssemos algemados no solo chileno. Cortaram as algemas na escada do avião. Na época, Allende governava em Valparaíso, e um grupo de dez presos políticos, do qual eu fiz parte, foi até o presidente. No gabinete de Valparaíso, Allende nos ofereceu hospedagem no Chile e também em Cuba, já que estava saindo um navio para lá naquela semana. Optei em ficar no Chile, onde militei muito.
Depois do golpe e do assassinato de Allende [em 1973], dispersamos e fui para uma comunidade, de São Miguel, que era um bairro popular de trabalhadores dos partidos socialista e comunista. Estávamos em casas de famílias chilenas que nos deram abrigo. Ficava uma noite em cada casa. Os militares começaram a atirar panfletos pela cidade em que pediam para que a população denunciasse o primeiro estrangeiro que encontrassem “porque foram eles que trouxeram o germe do marxismo e do comunismo para o Chile”. O Exército ainda tinha patrulhas que andavam nas principais ruas de Santiago. No entanto ainda tínhamos esperança, pois havia uma notícia de que o general Carlos Prates (das forças armadas, leal ao governo Allende, que havia sido comandante do exército) viria com tropas do Sul para iniciar uma insurreição. Tudo mudou quando vimos Prates na TV algemado; vimos que não tinha como ocorrer alguma resposta imediata. Tivemos que entrar na clandestinidade. Me mudei para uma outra vila, chamada de João Goulart (em alusão ao presidente brasileiro que sofreu o golpe). Nesta, corri maior risco, porque foi cercada pelo exército chileno e as casas foram revistadas, uma por uma.
Eu ainda tinha comigo uma carta com orientações políticas escrita a próprio punho pelo capitão Lamarca, em que me nomeava representante da VPR no Chile, e tive que queimá-la porque, se me encontrassem com ela, me passavam diretamente aos policiais brasileiros.
Em Cuba, foi um alívio, já que o socialismo estava instituído. Fomos recebidos com muita solidariedade. A população, mesmo sofrendo com problemas habitacionais, doou um apartamento por edifício aos exilados que vieram do Chile. É fantástica a solidariedade do povo cubano. Fiquei até o final de 1977, quando começaram os movimentos pela anistia no Brasil. Eu e outros companheiros decidimos ir para a Europa para depois preparar a volta ao nosso país. Fui para Paris, na França.
III - "A luta hoje é continuidade histórica da nossa luta anterior"
terça-feira, 21 de julho de 2009
Revolta contra abusos das empresas privatizadas de telecomunicações dá audiência para programas de rádio
Simplesmente bombástico
O fato novo envolvendo o Chefe de Gabinete da Governadora do Estado, Ricardo Lied; essa figura que, como outros, move-se nas sombras e escaninhos do poder, como a longa manus de interesses impublicáveis da Progenitora Maior do Estado, não pode e não deve ser encarado como algo menor. Muito ao contrário, é talvez um dos episódios mais graves ocorridos não apenas nesse governo, que tanto tem se notabilizado pela prática quase diária de atrocidades contra a justiça, a lei e a cidadania; mas na história recente do Rio Grande.
As circunstâncias de mais esse escabroso caso envolvendo agentes do governo que gravitam em torno de Yeda Rorato Crusius não estão sendo abordadas pela grande mídia com a abrangência que a gravidade do episódio exige. O próprio jornal procurado pelo Presidente do Detran, Sérgio Buchmann, para denunciar a tentativa de chantagem e intimidação que recebeu; vem, muito a contragosto, dando um espaço mínimo para o fato e seus articulistas, e outros do mesmo grupo, oscilam entre a timidez da análise, a descaracterização do crime cometido e a falta de argumentos para reconhecer que não tem mais como omitir da opinião pública a verdade dos fatos.
A revelação que Ricardo Lied fez-se acompanhar, em sua “visita” a Buchmann, pelo Superintendente dos Serviços Penitenciários, Mário Santa Maria Júnior, é a prova que faltava para chegarmos ao mandante do delito cometido. Conhecendo Santa Maria, quadro do PSDB como Lied, posso assegurar que ele jamais o acompanharia na empreitada se não houvesse recebido ordem superior para isso, emanada diretamente da Governadora do Estado, de quem partiu a tentativa de convencer a transigir em seus posicionamentos um técnico comprometido em realizar aquilo que considerava, ao assumir o cargo, interesse do governo: moralizar a autarquia. Nem Lied, nem Santa Maria agiram de modo próprio.
A história, já foi dito, acontece primeiro como tragédia, e depois como farsa. Ricardo Lied tem tudo para se transformar no “Gregório Fortunato” de Yeda Crusius. Tem a cobertura e a cumplicidade da sua “chefe” para continuar delinqüindo, e por isso transita com tanta desenvoltura em locais e situações distantes de suas atribuições. O ambiente para repetição da história está pronto, e não faltará uma Rua Toneleiros, um Carlos Lacerda ou um Major Vaz para que ela se repita como farsa. Com a substancial diferença de que, ao contrário dos episódios de 54, esse governo não possui contra si apenas insinuações de um ferrenho opositor, um tribuno exaltado, como Lacerda, mas um conjunto de denúncias e materialidades de crimes de toda a ordem, vindas de dentro da sua própria estrutura. E, certamente, a Governadora do Estado está a uma abissal distância da estatura moral de um Vargas. Não esperemos dela qualquer gesto de desprendimento.
A utilização das estruturas de segurança do Estado e de seus mecanismos, pelo atual governo, para exercer chantagem e pressão política tanto contra adversários como para seus próprios integrantes, denunciados por mim quando da saída do governo, se alguém ainda tinha alguma dúvida, se comprovou agora. Essa prática, cuja existência tentei levar ao conhecimento da Governadora, levou à minha exoneração. Agora, sabe-se, que ela não apenas conhecia os fatos denunciados, mas fazia e faz uso dessas práticas. Por isso a tentativa inicial de desqualificar minhas denúncias. Por isso a tentativa de, mediante uma sindicância fraudulenta, buscar algo que pudesse colocar em dúvida minha conduta, minha dignidade pessoal e meu caráter.
Seria injusto negar que dentro do governo, e mesmo em sua base política de apoio, existem pessoas com grande qualificação moral, às quais tem evitado que tudo desabe como um castelo de cartas; temeroso de prejuízos à governabilidade, e esse é o seu principal equívoco. A cada dia, são sufocados e arrastados pela devassidão dos ratos que se movimentam, abrigados pela impunidade, com cada vez mais desenvoltura. E com eles acabarão perecendo.
Enquanto isso, cercados pela omissão e pelo silêncio de tantos, perguntamos: Quousque tandem abutere, Yeda, patientia nostra?
Até quando?
Ainda sobre o caso DEMOs/FORD
O fato
Ação e votos
O que atraiu a Ford para a Bahia