quarta-feira, 15 de julho de 2009

Sem regulação pública, Telefônica é um fracasso generalizado

Reproduzo matéria divulgada pelo Correio da Cidadania (http://www.correiocidadania.com.br/content/view/3492/9/) sobre um tema bastante discutido nesse blog: o caos nos serviços de telefonia no país.

Por Rodrigo Mendes - jornalista.

Apesar de a empresa não assumir, usuários do Speedy, o serviço de internet de banda larga da gigante Telefônica, já contam quatro panes que derrubaram o sistema somente este ano. A história é antiga: desde sua chegada ao Brasil, a empresa espanhola tem estado entre as primeiras posições – e não raro tem sido a grande campeã – de reclamações em diversos órgãos de defesa do consumidor, causando cada vez mais prejuízos aos seus usuários, especialmente na cidade de São Paulo.

Com a quarta falha, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) proibiu no dia 22 de julho a Telefônica de vender novas assinaturas de seu serviço de banda larga. A empresa, para voltar a operar normalmente, terá que apresentar à Anatel um plano de investimentos de reestruturação em suas atividades.

Dentro deste contexto de sucateamento de mais um serviço público essencial, o Correio da Cidadania entrevistou o jornalista Gustavo Gindre, recentemente indicado para o Comitê Gestor da Internet no Brasil. Para ele, a ineficiência da multinacional sediada em Madri sintetiza o fracasso das privatizações no país, financiadas com dinheiro público e sem reversão de benefícios aos consumidores.

Também membro do Coletivo Intervozes, grupo que milita pela democratização do acesso à informação no país, Gindre desacredita a Anatel como órgão capaz de regular seriamente o setor, seja por falta de estrutura, seja por sua conexão aos interesses do setor privado. Como superação do atual modelo, aponta o caminho da construção de um novo marco regulatório do setor, menos privatizado e monopolista.

Correio Cidadania: Por que os serviços prestados pela Telefônica chegaram a tal grau de deterioração? Trata-se de incapacidade técnica, insuficiência de recursos, ou outros fatores também concorreram para que se chegasse a tal ponto de insatisfação da população usuária dos serviços da operadora?

Gustavo Gindre: Vamos pela ordem crescente dos problemas: houve uma série de erros no projeto técnico, da rede, no dimensionamento da rede. A Telefônica terceirizou setores que não poderia ter terceirizado. Uma coisa é terceirizar o serviço de instalação, aquele do sujeito que vai instalar o equipamento na casa das pessoas. Outra é terceirizar o técnico que estuda a topografia do lugar, por exemplo. Eles contrataram pessoal que sequer estava no Brasil para fazer esse estudo. E a Telefônica também comprou equipamentos de qualidade, no mínimo, duvidosa, para assim economizar dinheiro.

Aí chegamos ao segundo problema: por que fez isso? Há uma enorme falta de qualificação do corpo técnico da empresa aqui no Brasil. A empresa estava remetendo recursos para a Telefônica Espanha. A Telefônica Brasil sustenta a Telefônica Espanha. Para eles passou a ser mais interessante mandar o dinheiro para a Europa do que investir no Brasil. E assim deixaram do jeito que estava, com uma infra-estrutura absolutamente ultrapassada. Fizeram as coisas de qualquer jeito, comprando um equipamento de qualquer nível e embolsando a diferença.

E o terceiro motivo é o fato de a Anatel ser absolutamente capturada pelos interesses privados, não tendo sido capaz, talvez por não querer, de detectar esses problemas. É claro que eles não surgem do nada, não apareceram agora, de surpresa. Os planos de reestruturação apresentados pela Telefônica são verdadeiras obras de ficção. E só agora a Anatel foi obrigada a fazer algo, quando o problema explodiu na sua cara e porque a cidade de São Paulo ficou muda.

Tudo isso tem afetado a telefonia fixa, pois uma parte dela hoje trafega em redes IP. Ou seja, São Paulo pode estar à beira de um apagão telefônico também.

Curioso é o fato de a Telefônica fixa trafegar em redes IP não ser publicizado, pois essa solução barateia o real custo da telefonia, e mesmo assim os preços só aumentam. As pessoas poderiam começar a se perguntar: se o custo está abaixando, por que eu pago cada vez mais caro pelo meu telefone?

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