sábado, 25 de julho de 2009

Os riscos da volta da direita

Não subestimar a oposição. Pode ser fatal e facilitar o retorno da direita. Contam com toda a mídia, direção ideológica da direita brasileira. Contam com um candidato que, até agora, mantém a dianteira – e não basta dizer que é recall, porque é muito constante sua votação, o Ciro é recall e despencou nas pesquisas.

Contam com a grana, antes de tudo do grande empresariado paulista. Contam com os votos de São Paulo, que se tornou um estado conservador, egoísta, dominado pela ideologia elitista de 1932, de que são o estado do trabalho e o resto são vagões que a locomotiva tem que carregar. Contam com a despolitização destes anos todos, em que se apóia ao governo Lula, mas uma parte importante prefere, pelo menos até agora, o Serra. Contam com a retração na organização e na mobilização popular. Contam com a imagem de Serra, desvinculada do governo FHC, em que, no entanto, foi ministro econômico durante muito tempo, co-responsável portanto, do Plano Real, das privatizações, da corrupção, das 3 quebras da economia e as correspondentes idas ao FMI, da recessão que se prolongou por vários anos, como decorrência da política imposta pelo FMI e aceita pelo governo.

Conta também com erros do governo, seja na política de comunicação – alimentando as publicidades nos órgãos abertamente opositores, enquanto apóia em proporções muito pequenas os órgãos alternativos, seja estatais ou não. Erros de política de juros alta até bem entrada a crise, atrasando a recuperação da economia. Erros na política de apoio e promoção do agronegócios, em detrimento da reforma agrária, da economia familiar, da auto-suficiência alimentar.

É certo que a oposição não tem discurso que sensibilize ao povo, tanto assim que batem o tempo todo, com seus espaços monopólicos na mídia, mas só conseguem 5% de rejeição ao governo, que tem 80% de apoio. Mas também é certo que o estilo marqueteiro que ganharam todas as campanhas, despolitizam o debate, se Serra se mantiver na liderança das pesquisas, não precisa apresentar propostas, só as imagens maquiadas das “maravilhas” que estaria fazendo em São Paulo, assim como o tom de Aécio de que não é anti Lula, mas pós-Lula, dizendo – como disse e não cumpriu em São Paulo, que manteria os CEUS e outros programas sociais do PT – que vai deixar o que está bom – sempre atribuído ao casalsinho Cardoso.

A direita pode ganhar e se reapropriar do Estado. O governo Lula terá sido um parêntesis, dissonante em muitos aspectos essenciais dos governos das elites dominantes, que retornarão. Ou pode ser uma ponte para sair definitivamente do modelo neoliberal, superar as heranças negativas que sobrevivem, consolidar o que de novo o governo construiu e avançar na construção de um Brasil para todos.
Pescado do blog do Emir Sader na Carta Maior (www.cartamaior.com.br)

2 comentários:

Carlos Eduardo da Maia disse...

Emir é um intelectual medíocre, um desinformador. Prefiro mil vezes o sociólogo argentino Juan José Sebreli, citado pelo Feil, no DG, e que deu a seguinte entrevista ao Caderno Cultura da ZH de hoje. Bom fim de semana e boa leitura deste texto que recomendo, porque é ...... PERFEITO.

"A religião cívica pode ser democrática e pode ser autoritária. Aqui, na medida em que essa religião cívica não se fundamentava em instituições, em leis, e sim em indivíduos e nomes, levava inevitavelmente ao autoritarismo. Não conheço bem a questão da religião cívica estadunidense, mas imagino que lá se assentou no aspecto das instituições. A prova está em que não houve ditadores nos Estados Unidos, coisa que foi tradição na Argentina.
Provavelmente não estaria mal termos uma religião cívica, quando centrada na criação de cidadãos respeitadores da lei, mas aqui se criou uma religião cívica de patriotas que reverenciam super-homens, os que realmente fariam a história. Não se ensina às crianças e aos jovens que eles mesmos deveriam ser responsáveis pela sociedade, e sim que eles devem respeitar e seguir a esses grandes homens que são os próceres, os grandes vultos.Sim.
Uma sociedade como a que eu quero para o meu país, democrática, baseada em homens livres, iguais e responsáveis pelo próprio destino é, sem dúvida, uma sociedade sem ídolos caracterizados por qualidades extraordinárias que levam ao autoritarismo. Nós os conhecemos, são os líderes carismáticos. Eles são um obstáculo à democracia.
Chávez é um exemplo paradigmático de líder carismático, mas eu não falo de esquerda. Não creio que Chávez seja de esquerda, ele é populista, e o populismo oscila entre esquerda e direita segundo os momentos e a conveniência. Chávez é algo bastante parecido ao que tivemos aqui na Argentina com Perón. Creio que o que há de mais parecido com democracia na América Latina seja indubitavelmente Chile, Brasil, Uruguai. No Brasil as instituições predominaram sobre os personagens carismáticos. O Brasil teve um personagem precursor de Perón: Vargas. No entanto, hoje, no Brasil, Vargas é um personagem para a história. Nenhum partido político o reivindica. Aqui na Argentina continua-se falando de Perón como um guia, e ele governou há mais de meio século, em um mundo e em uma sociedade completamente diferente, que desapareceram.
Sim, não nego que, dentro de uma sociedade democrática e política sempre vai haver personalidades que se destacam mais do que outras, mas devem sempre estar subordinadas às instituições. Já se sabe que Lula não pretende buscar mais uma reeleição, o que ocorre nos países autoritários e populistas, como nos casos de Chávez e nos muito discutidos recentemente Honduras e Equador.
É o caso de todos os regimes que pretendem se perpetuar no poder, como queriam também de certo modo os Kirschner, e felizmente fracassaram.
Nosso país oscila entre a democracia e o populismo. Essa é a grande antítese atual. Não esquerda e direita, porque hoje elas se confundem muito. Não digo que sejam termos que não existem, porque enquanto houver duas correntes uma estará à esquerda em relação à outra. Mas hoje é confuso usá-los. De minha parte, prefiro dizer que a antítese fundamental na América Latina é entre a democracia e o populismo. O populismo representado, basicamente, por Venezuela, Cuba um pouco em decadência, Honduras, Nicarágua, Equador, de certo modo Bolívia. E a linha democrática seria Uruguai, Brasil, Chile, México. A Argentina oscila.
Não precisa falar mais nada, o cara virou meu ídolo."

Carlos Eduardo da Maia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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