"A ganância é o estímulo fundamental do sistema capitalista. Já está até a destruir a nossa espécie. Há que combater o capitalismo mais do que nunca. Com o consumo desmedido por parte de 20% da população mundial, estamos a chegar a um ponto sem retorno, que pode dar origem a um caos biológico."
A afirmação é de Camilo Guevara, filho do heróico revolucionário Ernesto Che Guevara. Camilo esteve nos Emirados Árabes Unidos para assistir ao lançamento de um novo documentário sobre seu pai e concedeu entrevista ao português "Jornal de notícias". Veja os principais trechos:
Como é viver com o peso de ser o filho do Che?
Para mim não é um peso. Tenho muito orgulho em ser filho dele. Mas é verdade que há pessoas que podem confundir certas coisas e acham que por ser filho tenho de ser exactamente essa pessoa. O mais importante é esse orgulho dele ter sido o meu pai, e o grande carinho e admiração que sinto por ele.
Quando viaja pelo mundo e vê sobretudo jovens com t-shirts com a imagem de Che Guevara, o que lhe passa pela cabeça?
Tenho a esperança de que pelo menos o conheçam. Sei que por vezes não é assim. Às vezes é por snobismo ou por ser moda. Creio que de todas as formas, o facto de levarmos algo com a imagem do Che nos identifica logo com a figura. E mais tarde ou mais cedo talvez se acabe por conhecer melhor essa pessoa. Isso pode ser positivo.
E quais são os aspectos negativos?
O que me desagrada é a comercialização vã da figura de Che Guevara, tentando, na minha opinião, separar a História da própria imagem. Convertendo-o num mito frio, sem valor. Mas é difícil consegui-lo. Um dia, essas pessoas vão acabar por ir à procura de um livro ou algo que os leve a saber quem foi realmente Che Guevara.
O Che foi rebelde, revolucionário, há quarenta ou cinquenta anos. O que é ser revolucionário hoje?
O Che é, ainda hoje, rebelde e revolucionário. Na actualidade, é necessário mais do que nunca criar uma alternativa ao Mundo. A ganância é o estímulo fundamental do sistema capitalista. Já está até a destruir a nossa espécie. Há que combater o capitalismo mais do que nunca. Com o consumo desmedido por parte de 20% da população mundial, estamos a chegar a um ponto sem retorno, que pode dar origem a um caos biológico.
Como é que essa mudança poderá ser feita?
Há muitos caminhos, muitas formas. Mas a essência é a mesma. Tem de se criar um sistema alternativo. Dê-se-lhe o nome que se quiser. Se quiserem chamar comunismo, chamem. Se quiserem chamar socialismo, chamem. Se quiserem chamar harmonia, que seja harmonia. Mas tem de ser um sistema diferente do que existe na actualidade. E há que fazê-lo, é tão simples como isso. Não há outra alternativa.
Mas acha que é possível fazer essa mudança, no mundo de hoje?
É possível em qualquer parte do mundo. Veja este país, é completamente fictício. Estas construções que vemos aqui, que custo têm? Nem estou a falar no dinheiro. Que custo ambiental, ecológico, têm? Não quero dizer que devessem voltar para o deserto e andar de camelo. Mas o desenvolvimento devia ter sido racional. Mas não, está a criar um desequilíbrio total, é o que está a acontecer em todo o Mundo.
É necessária uma mudança de mentalidades, não está de acordo?
É verdade, porque o maior problema é que os outros 80% querem ser como os 20% que têm toda a riqueza. Mas é impossível. Para haver esses 20%, é preciso que os outros 80% sejam explorados e tenham péssimas condições de vida. É muito difícil manter um sistema assim indefinidamente. Espero que tenhamos a maturidade suficiente para percebermos que não podemos continuar nesse caminho.
Mas pensa que essa tentativa de criar um sistema alternativo foi conseguida?
Houve muitas coisas positivas que se alcançaram, em termos de desenvolvimento. É indiscutível, inquestionável. E servem de experiência para novos passos, novas acções. O caminho é longo. Mas é o caminho que o Che pretendia. O futuro não é um dogma. Há que encontrar o caminho e ir caminhando através dessas experiências.
Leia a íntegra aqui.
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