quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Carta do Cerrado

Por Adão Paiani*

Aqui do cerrado goiano, observo as semelhanças entre os governos do Rio Grande e Brasília, na condução da coisa pública e aparelhamento estatal em benefício de grupos marginais. Um verdadeiro eixo entre os Palácios Piratini e Buriti, originado nas experiências dos titulares dos respectivos Executivos.

Medidas preventivas para dissociar as situações já foram tomadas pela mídia amiga do atual governo gaúcho. Mas a realidade tem lógica própria. Certo é que, ou céus e terra se movem para ajudar Arruda, ou o pássaro vai cantar. O tom já foi dado. Arruda nada tem a perder, e sabe cobrar favores. O infortúnio dele, no entanto, seria a sorte do Rio Grande.

Falando em conexões, infelizmente a CPI da Corrupção não questionou os inquéritos policiais das mortes de Marcelo Cavalcante e Nestor Mähler; pelo bloqueio da base aliada na Assembléia; mas também por disputas de beleza na própria oposição. Coisas tipo “prá que levantar essa questão se outro vai faturar em cima?”, ouvi mais de uma vez.

Em certo momento, na CPI, começou a se cristalizar a falsa idéia que os investigados eram carta fora do baralho; estavam acabados; só esperando o fim do mandato. Subestimou-se sua capacidade de articulação, escorados em segmentos importantes que sustentam a cleptocracia dominante e que já sinalizam sua continuidade.

A corrupção e a bandalheira que experimentamos não são diversas daquelas que grassam na maior parte do mundo. Só que aqui são recompensadas com a impunidade e a tolerância. O mal maior que temos a obrigação de combater, paradoxalmente, é a impunidade, e não a corrupção. Minorar as possibilidades dessa última depende de estabelecer a certeza da punição, e isso vem da inconformidade daqueles que pagam a conta.

Quando se permite que barbaridades como as cometidas pelo governo gaúcho ou candango dêem em absolutamente nada; sinalizando que estamos dispostos a tolerar, somente fortalecemos os membros da cleptocracia e aqueles que os apóiam. E continuamos alimentando um monstro insaciável.

A rearticulação, no Rio Grande, do atual grupo dominante; incrivelmente, depois de tudo; em torno do mesmo nome, é resultado tanto da impunidade quanto do conformismo. E que existe uma pré-disposição a tolerar ainda mais.

Os gaúchos, de uma vez por todas, têm que decidir em que tipo de rincão do mundo querem viver. Aqui ao lado, em Brasília, o povo, na rua, já começou a responder. E aí? Ainda dá tempo. Pouco, mas dá.

*Advogado

Nenhum comentário:

Seguidores

Direito de Resposta do Brizola na Globo