Cerca de 400 agricultores familiares participam, de 5 a 7 deste mês, do 2º Encontro de Agroecologia do Estado do Rio, que será realizado na Universidade Federal Rural (UFRRJ), em Seropédica. Segundo a professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Mônica Cox de Britto Pereira, o apoio ao processo de intercâmbio, visando a dar maior visibilidade às experiências que mostraram sucesso em sua implantação, é um dos desafios dos agricultores agroecológicos fluminenses.
Ela acredita que a maior visibilidade dos projetos garantirá que essa metodologia tenha continuidade, levando cada agricultor familiar a se transformar em multiplicador do conceito agroecológico. “Que a gente possa construir uma rede, fortalecendo-a”. Mônica traçou o mapeamento da agroecologia fluminense e constatou que outro desafio diz respeito à própria política pública para o setor.
Para ela, essa política tem uma visão desenvolvimentista que valoriza o econômico em primeiro lugar e o pacote tecnológico preconcebido, quando os produtores querem plantar de forma diversificada. “O desafio é investir mais na proposta de produção diversificada que, inclusive, recupera passivos ambientais”, afirmou.
“Eles são multiplicadores em suas regiões”, disse a professora.
O mapeamento feito por Mônica Pereira nos últimos dois anos encontrou “uma riqueza muito grande de experiências nas várias regiões [do estado], inclusive a metropolitana”. Essas experiências, além de diversificadas, embutem outras questões como a segurança alimentar da família e a recuperação ambiental. “Apesar de muitas estarem um pouco no anonimato, a gente percebe que elas têm um potencial grande para muitos desafios que encontrados hoje, tanto no campo quanto na cidade. Esse tem sido, em geral, um aspecto muito importante”.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado do Rio tem 25 mil agricultores familiares. Mônica Pereira explicou que nem todos se enquadram como agricultores agroecológicos. Em geral, eles resistem com suas lavouras em trechos de municípios que têm outras atividades centrais, como o turismo, por exemplo, no caso de Araruama, situado na Região dos Lagos. “Eles resistiram a esse processo de transformação”.
Em comum, esses agricultores residem em áreas onde ainda existem matas, ressaltou Mônica. “[Têm] a capacidade de a agricultura conviver com a natureza e dar bons resultados. São nesses locais que a gente vem encontrando a agroecologia e também nos assentamentos rurais”. O Rio de Janeiro registra mais de 80 assentamentos rurais.
Embora numericamente não sejam expressivos, os agricultores agroecológicos têm potencial de crescimento, porque estão tendo resultados significativos em termos de volume de produção e diversificação de cultivos. “Alimentam a família, recuperam nascentes e sementes, não estão endividados em bancos por conta de pacotes que os levam ao uso de veneno. Então, apesar de simples nesse contexto, eles têm potencial para a gente pensar a agricultura em bases agroecológicas”. Em cada uma das seis regiões fluminenses mapeadas, Mônica identificou entre 100 e 150 agricultores com potencial de agroecologia.
O agrônomo Marcio Mendonça, do movimento Articulação de Agroecologia do Rio, disse que o encontro na UFRRJ visa a fortalecer a rede de agroecologia no estado. “A ideia é reunir experiências e fortalecer a construção de uma unidade de proposições e demandas da agricultura familiar agroecológica no Rio”.
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