terça-feira, 4 de maio de 2010

O reino

Por Adão Paiani*

Não há como deixar passar em branco o retorno de conhecida figura das sombras ao Palácio Piratini. O que em circunstâncias normais seria tão somente uma rotineira movimentação administrativa, no contexto da cleptocracia reinante toma as proporções de afronta à lei, à justiça, à cidadania e à paciência dos cidadãos. Um deboche vindo de quem demonstra convicção da impunidade sobre seus atos, mandos e desmandos, ou assume definitivamente ser versão moderna de Maria I, rainha lusitana do final do século XVIII ou ainda, o que é pior, age movida pelo mais absoluto terror.

Como convêm a uma corte insana, decisões desse jaez devem ser devidamente chanceladas pelo Bobo da Corte; que neste caso de bobo nada possui. Esse igualmente singular personagem, a quem chamaremos de Probo, o “guardião” da Transparência e da Probidade, considera mais importante atender aos deveres de lealdade para com a realeza que o resgatou do ostracismo, do que obedecer aos princípios elementares que devem mover a administração pública do reino, respeitando aqueles que pagam a conta. O que vindo de alguém que em priscas eras já atuou como fiscal da lei não é pouca coisa.

Probo julga absolutamente normal que alguém com histórico comprometedor permaneça oficialmente no entorno da soberana porque entende que os fatos apontados como improbos são tão somente resultado de missões cumpridas em absoluta fidelidade às ordens recebidas. E esforça-se para fazer crer que o véu do esquecimento já baixou sobre a consciência da plebe.

Mas por maior que seja seu esforço e dos escribas oficiais do reino, nada mudou no entendimento que se têm em relação à pequena, porém perigosa, figura que transita desenvolta pelos subterrâneos. Continua como citada nos escândalos que abalaram o reinado, e como tal permanece ré em ação que tramita entre os doutores da Lei.

Seu retorno para o lugar do qual nunca realmente saiu é mais uma demonstração de como um personagem obscuro pode influir sobre o poder, dependendo do grau de convencimento e de barganha que possua e do terror que possa inspirar em seu criador. E do conhecimento de coisas que não desapareceriam com um singelo passeio às margens plácidas de um lago, num final de tarde qualquer.

*Advogado

2 comentários:

basicregisters disse...

Ilustração G E N I A L !

Anônimo disse...

Lendo o artigo fiquei não sei porque me lembreido José Dirceu e do Mercadante e do Delúbio.

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