sábado, 14 de novembro de 2009

Seu Telmo e o Secretário


Em primeiro plano, Seu Telmo. Atrás, Francisco Luçardo e assessor, no Café La Leña.

Por Adão Paiani*

O Seu Telmo é uma grande figura humana, daquelas que dá satisfação em conhecer e conviver. Das que fazem acreditar ter o mundo ainda jeito, por existir gente como ele por aí.

Entrou no serviço público estadual pela porta da frente, sem apadrinhamentos; pela própria capacidade, no final da década de 50. Seu pai, operário, acreditava em viver com trabalho, dignidade e decência, respeitando o que era dos outros. Com esforço, Seu Telmo formou-se em Administração de Empresas. Primeiro de sua família a conquistar uma graduação superior, num tempo em que isso era impensável para um filho do proletariado.

Dedicado, eficiente e leal, foi assumindo posições de grande relevância na máquina pública. Administrador; sabe que a gestão pública deve se pautar pela legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Foi o que aprendeu.

Após trinta e dois anos, a aposentadoria. E se pôs a viajar, sempre na companhia da sua inseparável Leda; às próprias custas; como tem de ser. E conheceu o Brasil, e partes interessantes do mundo.

Numa tarde de quinta-feira, de um florido novembro, lá estava Seu Telmo e família, passeando por Rivera, no vizinho país oriental. Não sabia que pertinho dali, conhecida figura pública gaúcha também fazia o mesmo agradável passeio.

Talvez esse alguém não devesse estar ali. Não naquela hora, lugar e circunstâncias; numa tarde em que aqueles que não podem se liberar dos compromissos, ao contrário do Seu Telmo, deveriam estar trabalhando.

Seu Telmo aprendeu que a mulher de César não apenas tem de ser honesta, mas também assim parecer. E que em horário de expediente, um servidor público precisa ter uma boa explicação para estar em local diverso de onde deveria.

Valendo isso para todos, o que explica estar, em 12/11/2009, pelas 16h, na Avenida Sarandi, o Secretário da Transparência e Probidade Administrativa do Estado do Rio Grande do Sul (Francisco de Assis Cardoso Luçardo), na complexa tarefa de adquirir vinhos de boa cepa, na conhecida Loja Neutral, para logo após esse estafante compromisso, aplacar a sede típica de uma tarde escaldante, logo ali ao lado, no Café La Leña; onde aparentemente já havia almoçado naquele dia?

Sem prejulgamentos a injustiçar o garante da probidade ao sul do Mampituba; quem sabe não estaria ele lá, como o Seu Telmo, às suas próprias expensas e gozando, quiçá, de férias ou merecida licença. Talvez.

Ou em missão oficial, a ensinar aos orientais práticas de transparência, ética e respeito que se tornaram marca registrada do governo riograndense; a ponto de ser criada uma Secretaria de Estado específica para tal.

Estaria lá para mostrar, a Lacalle ou Mujica, a prática revolucionária de uma gestão eficiente e proba? Duvida-se que, um ou outro, em especial o segundo, tivesse coragem para submeter o povo uruguaio à tão notável modelo de gestão; mas não custa tentar.

Assim sendo, justificável o recebimento de diárias, e outras benesses indispensáveis a tão nobre missão, pelo eficiente Secretário. Ou estaríamos financiando turismo e regalias de alguém que se acha no direito de utilizar recursos públicos para satisfazer suas necessidades pessoais, como bons vinhos e happy hour?

Eu, que também estava por lá; e presenciei o esforço do nobre Secretário, na árdua tarefa de selecionar vinhos para sua adega; imagino que essas dúvidas possam ser esclarecidas em consulta ao Portal da Transparência do Governo Estadual.

Pelo menos é o que acreditam servidores e pessoas honradas da estirpe do Seu Telmo.

* Advogado

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