The Guardian – Londres
Não podemos esperar mais pelo reinício do processo de paz. O sofrimento humano pede um alívio urgente.
É de conhecimento geral que o processo de paz no Oriente Médio está em crise, quase agonizante. A expansão dos assentamentos israelenses dentro da Palestina continua, e os líderes da OLP [Organização para a Libertação da Palestina] se recusam a fazer parte das renovadas negociações de paz sem uma interrupção nessa expansão dos assentamentos, sabendo que nenhuma nação árabe ou muçulmana aceitará qualquer acordo enquanto Israel retiver o controle de Jerusalém Oriental.
Objeções estadunidenses têm dificultado os esforços egípcios para resolver as diferenças entre o Hamas [Movimento de Resistência Islâmica] e o Fatah [Movimento de Libertação Nacional da Palestina] que poderiam levar a eleições em 2010. Com esse impasse, os líderes da OLP decidiram que o Presidente Mahmoud Abbas continuará no poder até que as eleições aconteçam – uma decisão condenada por muitos palestinos.
Embora a Síria e Israel governado por Ehud Olmert tenham quase alcançado um acordo com a ajuda da Turquia, o atual Primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeita a Turquia como mediadora nas Colinas de Golã. E não existe uma alternativa provável em vista.
A assembléia geral da ONU aprovou um relatório publicado pelo seu conselho de Direitos Humanos, solicitando oficialmente que israelenses e palestinos investiguem as acusações de crimes de guerra durante a recente guerra em Gaza, mas respostas positivas parecem pouco prováveis.
Resumindo, as resoluções da ONU, as convenções em Genebra, os acordos anteriores entre israelenses e palestinos, a iniciativa árabe pela paz e as políticas oficiais dos Estados Unidos e de outras nações estão todas sendo ignoradas. Nesse ínterim, a demolição de casas de árabes, a expansão dos assentamentos israelenses em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, e a resistência palestina ameaçam qualquer perspectiva real de paz.
Motivo de preocupação mais imediata, os sitiados em Gaza encaram um outro inverno de intenso sofrimento. Eu visitei Gaza depois da devastação da guerra em janeiro e observei pessoas desabrigadas se protegendo em tendas precárias, debaixo de lonas de plástico ou em cavernas abertas nas ruínas de suas antigas casas. Apesar de os líderes palestinos e agências internacionais oferecerem garantias de não usar materiais importados nem mesmo para propósitos militares de defesa, cimento, tábuas de madeira e chapas de vidro não têm permissão de entrar em Gaza. Os Estados Unidos e outras nações aceitaram essa situação abominável sem uma rigorosa ação corretiva.
Eu discuti com vários líderes árabes e europeus sobre formas de ajudar os cidadãos de Gaza e a resposta geral é que o bloqueio israelense torna impossível qualquer ajuda. Doadores destacam que têm providenciado grande quantidade de fundos de ajuda para a construção de escolas, hospitais e fábricas, apenas para vê-los destruídos em poucas horas por bombas e mísseis de precisão. Sem garantias internacionais, por que arriscar perdas similares no futuro?
É hora de encarar o fato de que nos últimos 30 anos nenhuma nação foi capaz ou estava disposta a quebrar o impasse e convencer as partes a cumprir as leis internacionais. Não podemos esperar mais. Israel tem argumentado que não pode negociar com terroristas, embora tenha tido um ano inteiro sem terrorismo e ainda assim não pôde negociar. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, prometeu um envolvimento ativo do governo estadunidense, mas nenhuma negociação de paz formal teve início e nenhum projeto viável para a paz foi proposto. Individual e coletivamente, os poderes mundiais devem agir.
Um recente sinal de vida foi a decisão do dia 8 de dezembro dos ministros de Relações Exteriores da UE [União Européia] de reafirmar os antigos requisitos básicos para a paz comumente aceitos na comunidade internacional, o que inclui que as fronteiras de Israel antes de 1967 prevalecerão a menos que sejam modificadas por um acordo negociado com os palestinos. Uma semana depois, a nova diretora de política externa da EU, a Baronesa Catherine Ashton, reiterou essa declaração em termos bem mais incisivos e pediu que o Quarteto Internacional [Estados Unidos, União Européia, Rússia e ONU] fosse “revigorado”. Essa é uma perspectiva promissora.
O presidente estadunidense Barack Obama acertou ao insistir numa solução baseada na coexistência de dois Estados e na completa interrupção dos assentamentos como bases para as negociações. Já que Israel rejeitou a interrupção e os palestinos não negociarão sem ela, a atitude lógica para os membros do Quarteto é apoiar a proposta de Obama, declarando como ilegal qualquer expansão futura dos assentamentos e recusando seu veto nas decisões do Conselho de Segurança da ONU para condenar tais assentamentos. Isso poderia bloquear Israel e também trazer os palestinos para a mesa de negociações.
Ao mesmo tempo, o Quarteto poderia se unir à Turquia e convidar Síria e Israel para negociar uma solução para a disputa das Colinas de Golã. Sem atribuir culpa a nenhuma das partes, o Quarteto também poderia iniciar a reconstrução de Gaza, organizando esforços de socorro sob a supervisão de um ativo e especial embaixador, fiscalizando o cessar-fogo entre Israel e o Hamas, e mediando a abertura das fronteiras. O clamor das pessoas sem moradia e com frio exige alívio imediato.
Este é um tempo para ação corajosa, e temporada para o perdão, reconciliação e paz.
Pescado do Correio Internacional.
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