domingo, 2 de agosto de 2009

Reféns

Adão Paiani envia artigo comentando matéria publicada pelo jornal Zero Hora e a atual situação política em que se encontra o governo gaúcho:

A matéria denominada “Um novo recomeço”, publicada em 25 de julho no jornal Zero Hora, fala com uma clareza surpreendente, dos condicionantes a que está submetida Yeda Crusius na propalada reforma do seu secretariado; prevista para o retorno das férias que concedeu ao Rio Grande, essas, infelizmente, ainda não definitivas.

Premida pela realidade; sem ter mais como justificar os delitos praticados dentro de seu próprio gabinete e na tentativa desesperada de salvar um governo que já acabou; a Governadora precisa agora achar uma fórmula de trocar as peças de seu tabuleiro carcomido sem ferir suscetibilidades, quando deveria; se não tivesse nada a temer, como mandante ou cúmplice; demitir os envolvidos e deixar para a justiça decidir as questões legais. Ao invés disso, fala agora em “remanejamento” das figuras mais notórias, dentro da própria estrutura governamental. É o tirar, não tirando. É o sair não saindo. É dar a oportunidade de se manter o esquema em outras e, preferencialmente, próximas latitudes.

A confissão, segundo o texto, partiu de integrantes do governo e do próprio PSDB e vem apenas confirmar o que há muito já se sabia. O atual governo gaúcho dá a alguns de seus integrantes salvo conduto para práticas criminosas, abriga em seus quadros uma quadrilha e transformou o Piratini em um covil. E, mais uma vez, uma questão política vira um caso de polícia. Mas de Polícia Federal, pois a nossa, infelizmente, a julgar pela fraqueza e subserviência da cúpula da Segurança Pública do Estado, parece já haver sido perigosa e definitivamente envolvida nas práticas palacianas.

Diz, a certa altura, a matéria: “Quanto ao chefe de gabinete, Ricardo Lied, secretários têm dito que Yeda quer colocá-lo numa função fora do governo para evitar controvérsias. Conforme um tucano, a governadora terá de dar um bom cargo para Lied e assim evitar que ele saia atirando.

Quando cogitam alterá-lo, ele reage violentamenteconta um interlocutor da governadora.

Outro alvo da reforma é a assessora Walna Meneses, investigada pela Polícia Federal por suspeita de participação em irregularidades em licitações. A intenção de Yeda é tirá-la da vitrina. Também não estaria descartada a saída de envolvidos em denúncias, como os secretários Rogério Porto (Irrigação) e Marco Alba (Habitação).”

Mais esclarecedor impossível. Yeda é ao mesmo tempo; mandante, cúmplice e refém de uma estrutura criada por ela própria, mantida em seu benefício pessoal desde a campanha, e ainda antes disso, e depois trazida para dentro do governo. Isso não é segredo dentro do seu próprio partido. Qual a justificativa para que um governo do PSDB não tenha em seus quadros figuras históricas, experientes, competentes e dignas como João Gilberto Lucas Coelho, Vicente Bogo e outros de igual relevo?

Mais desmoralizante impossível. A governadora de um dos Estados mais importantes da Federação comete crimes contra a administração pública, descritos pelo Código Penal, como prevaricação (art. 319) e condescendência criminosa (art. 320), por ser incapaz de demitir integrantes de seu próprio governo suspeitos de irregularidades, como é o caso de Walna Vilarins; envolvidos em denúncias, como é o caso de Rogério Porto e Marco Alba; ou réus confessos, como é o caso de Ricardo Lied.

O caso de Lied é emblemático. O conhecido “Olivetti”, de trajetória bastante conhecida na cidade de Lajeado, gravado em conversa assumindo a violação do Sistema de Consultas Integradas para espionar a ficha de um adversário político e praticando tráfico de influência com o objetivo de afastar os comandos regionais da Polícia Civil e Brigada Militar do Vale do Taquari, passou incólume pelo episódio e voltou a delinqüir; agora encabeçando, com a cumplicidade de policiais, uma vergonhosa tentativa de chantagear um dirigente de autarquia e força-lo, segundo palavras do mesmo, a transigir em questões de interesse do governo. As dúvidas quanto às razões de tanta impunidade se dissipam. Mandante e cúmplice. Mentor e operador. Papéis que se confundem e práticas que se materializam.

Sem um novo cargo, Lied ameaça reagir violentamente, sair atirando. Yeda tem medo? A toda poderosa imperatriz então está à mercê dos servos? As criaturas finalmente se voltam contra quem as criou? Quem mais a ameaça? Quem mais a faz refém?

A forma como as peças serão movidas serão a confissão final. Poderemos ver com clareza quem está nas mãos de quem.

E os cidadãos e cidadãs do Rio Grande, e seus representantes, são reféns de que? Da letargia, da indiferença, da omissão?
Por quanto tempo mais?

2 comentários:

Anônimo disse...

De Collor para Simon no dia 3de ago
"Esta Casa não pode e não haverá de se agachar ao interesse da mídia, que deblatera, como o senhor deblatera, como parlapatão que é. Peço a vossa excelência que, por gentileza, evite usar o meu nome."
Parlapatão deblaterante!! Perfeito

Fernando disse...

Em outros governos esse artigo teria lugar de destaque nos jornais. Agora a pauta é o clima, o cachorrinho perdido, o gatinho que subiu no telhado... Ficam fingindo que não é com eles.

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