sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Vida Longa ao Subdesenvolvimento


Por Isabela Nogueira - Pescado do Coletivo Crítica Econômica


Subdesenvolvimento é uma maravilha, não duvide. Como membro de nascimento e sangue da pequena-burguesia paulista, estou levando adiante o plano de lançar o partido “Vida Longa ao Subdesenvolvimento”, e tenho aqui minhas evidências de que vou congregar não só os grandes proprietários de terra, agro-exportadores, financistas e CEOs de multinacionais, mas especialmente a nossa ilustrada classe média brasileira.

Meus companheiros, eu vos alerto: desenvolvimento é um terror! Da higiene e cuidados pessoais à funcionalidade da vida cotidiana, você perderá inúmeras das facilidades de que dispõe hoje.

Esqueça a roupa limpa e a casa cheirosa que a dona Maria deixa semanalmente para você por menos de 1% do seu salário. E o conserto da pia que o Manoel faz por uma

cervejinha? Nunca mais um porteiro vai carregar suas compras até o elevador, ou matar uma barata no meio da madrugada. Suas unhas então, que depressão… Quando você for ao cinema, quem cuida dos bebês, me diz? Adeus àquela feirinha de domingo onde você faz a compra da semana por R$ 15,00. E o trágico final é, naquele dia de calor, você delirando por um refresco à beira da praia, e nem sinal do ambulante, aos berros, “Skol, mate, biscoito Globoooo”.

Nesse mundo tenebroso do desenvolvimento igualitário, não haverá encanador, faxineira, manicure –e se encontrar, vão te custar os olhos da cara. Muito menos aquele quartinho de empregada que quebra um galhão no fundo da sua casa. Porteiro e camelô, esses sim esquece, serão extintos.

É bem verdade que você não terá que pagar uma fortuna pelo colégio das crianças, mas sem as instituições de elite para os nossos meninos vencedores, eles podem se envolver em tantas más influências, imagine só.

Em verdade, você terá que sobreviver em um apartamento minúsculo e assistir à depreciação relativa do salário do seu marido, funcionário do banco, que não vai ganhar mais do que cinco vezes o salário de um motorista de ônibus.

E se você já acha que Bolsa Família é o absurdo do absurdo por apoiar a preguiça de quem não trabalha, imagine que aqui na Finlândia, onde passo minhas férias, auxílio-desemprego chega a mais de 600 euros por mês! Conheço muito brasileiro que gostaria de migrar pra banda de cá e nunca mais trabalhar, ah se conheço.

Não há outro jeito senão perpetuar o subdesenvolvimento, meus amigos. E manter o salário e as condições de vida da maioria bem abaixo da nossa. Só assim, com muitos embaixo, sustentamos a nossa posição cá em cima. Entendem agora? Longa Vida ao Subdesenvolvimento!

Nós estudamos e trabalhamos tanto que merecemos esse respeito! Me desculpe, Maria e seu Manoel, mas vocês vão continuar migrando das suas terras, vivendo em favelas, saindo de casa às seis, muito sol na cabeça, esgoto aberto, lotação ilegal lotada, sem escola decente para seus filhos. Com um pouco de sorte, um deles consegue uma vaga no ProUni, não percam a fé! Mas os outros todos, me desculpem, é necessário, os outros todos vão continuar consertando os nossos estragos e limpando a nossa merda.

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