quinta-feira, 14 de maio de 2009

Notícias do ex-paraíso neoliberal

Reproduzo notícia veiculada pela página do Jornal Estado de São Paulo (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090511/not_imp368689,0.php) com notícias nada alvissareiras sobre a Islândia, país que era considerado modelo pelos neoliberais antes da crise. Era para essa situação que eles pretendiam nos levar.

''Sou apenas a primeira vítima''

Ex-primeiro-ministro da Islândia, Geir Haarde conta como perdeu o cargo e diz que outros ainda vão cair

Jamil Chade, GENEBRA

"Eu fui a primeira vítima política da crise financeira mundial. Mas tenho certeza de que outros governos cairão." O aviso é do ex-primeiro-ministro da Islândia Geir Haarde, que, meses depois de sua queda, falou ao Estado sobre como viveu o que ele chama de "dias dramáticos".
A Islândia foi o primeiro país a ser duramente afetado pela crise, com bancos falindo, demissões e a constatação de que estava em um caos financeiro. O governo caiu no fim do ano passado.
Haarde garante que tirou pelo menos duas lições da turbulência: um sistema de metas de inflação e altas taxas de juros - como o que existe no Brasil - não funciona. Além disso, uma economia não pode simplesmente ficar à mercê dos fluxos internacionais.
A Islândia tem apenas 304 mil habitantes, pouco menos que a população de Jundiaí (SP). Mas tinha conseguido nos últimos anos tornar-se um centro financeiro e referência mundial em qualidade de vida. Tem um dos índices de desenvolvimento social mais altos do planeta, sistema educacional exemplar, 1% de desemprego e um dos maiores PIBs per capita: US$ 40 mil por ano, mais de dez vezes superior ao do Brasil.
O problema é que grande parte dessa riqueza não estava baseada em sua produção de bacalhau e, sim, em atrair o instituições financeiras para a ilha. Os recursos depositados em bancos na Islândia chegaram a US$ 100 bilhões, ante um PIB de US$ 14 bilhões. Com a crise, o país praticamente decretou uma "falência nacional".
A Islândia sofreu os primeiros protestos em décadas. "Eu entendo a frustração das pessoas. Três de nossos maiores bancos se deram conta de que não tinham como se financiar diante do congelamento dos empréstimos no mundo. A economia crescia e a renda do país também. Mas, com a crise, vimos que nem o governo nem o Banco Central tinham recursos suficientes para salvar os três bancos", explicou.
"Decidi convocar eleições dois anos antes do previsto. Nenhum governo do planeta estava preparado para enfrentar o que o mundo enfrentou nos últimos meses", disse. "Eu vivi dias dramáticos. Além da crise, desenvolvi um câncer e, diante do caos político, o governo foi dissolvido", contou. Cerca de 85% do sistema financeiro estava nas mãos dos três bancos que faliram.
"Descobrimos da noite para o dia que uma economia pequena não pode correr o risco de abrir totalmente seu mercado financeiro e ficar 100% dependente do que ocorre no cenário internacional. Agora, estamos sendo ajudados pelo FMI e espero que o país supere as dificuldades", disse.
O ex-primeiro-ministro admite que ainda não sabe se o mundo já aprendeu todas as lições da crise. "Não sei se o mundo aprendeu. Vejo ainda muita gente defendendo um sistema de metas de inflação e altas taxas de juros. Isso não funcionou para nós e é importante que se pare de dizer que há um consenso internacional de que esse é o caminho correto", alertou.
"Essa crise não terminou e ainda não promoveu todas as mudanças políticas que acredito que ainda ocorrerão. Meu governo caiu. Mas outros certamente vão cair também", disse. Eleições vão ocorrer neste ano na Alemanha e no Reino Unido.
Com milhões de novos desempregados, governos que esperavam uma reeleição relativamente fácil correm o sério risco de não continuar no poder. É o caso do Reino Unido.
Enquanto isso, protestos se proliferam em várias partes da Europa. "Ninguém tem ainda ideia do que fazer para superar definitivamente essa crise. Essa é a verdade", completou.

Nenhum comentário:

Seguidores

Direito de Resposta do Brizola na Globo