Duas notícias publicadas nos veículos de comunicação tradicionais, na última semana, apontam um dos objetivos da CPI da Petrobras: interditar e condicionar o processo democrático. A primeira, em tom de denúncia, reclama que o PT controla 17 das 80 diretorias da Petrobras. A segunda informa que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, descarta mudanças na diretoria da Petrobras.
Pois bem, façamos algumas reflexões sobre o pensamento da mídia dominante. O presidente eleito do país é do PT, a direção da Petrobras deveria estar controlada por quem? Pelo tucanato? As empresas sobre controle público devem perseguir objetivos sociais democraticamente estabelecidos pela população através da eleição dos seus governantes. Caso esse argumento fosse suficiente ou coerente para justificar uma CPI poderíamos instala-las em todas as esferas do país, inclusive no Estado de São Paulo. Ou vocês acham que o Serra não nomeou tucanos para dirigir as estatais paulistas.
Mas é a segunda notícia que desvenda as verdadeiras intenções do ataque à Petrobras: promover mudanças em sua diretoria. Seria de perguntar: se o governo entregar as diretorias objeto do desejo aos nomes indicados pela oposição, não haverá mais necessidade de CPI? Seria algo parecido com o que ocorreu no episódio do chamado "caos aéreo": a simples substituição do Ministro da Defesa pelo pemedebista de nome, mas tucano de coração, Nelson Jobim resolveu magicamente todos os problemas, da noite para o dia, na mídia hegemônica.
No fundo, trata-se do conceito de democracia das elites brasileiras: só existe democracia quando ela manda segundo os seus interesses. Quando perde as eleições ou tem qualquer dos seus interesses ameaçados, se julga diante do pior dos regimes autoritários.
Um comentário:
Cabe lembrar Sócrates.
Para ele, a democracia é o império da opinião sobre o juízo. O reino da quantidade sobre a qualidade.
Quando perguntaram-no o que pensava da democracia, o filósofo respondera, utilizando um burro como analogia; como o burro tem que dar a sua opinião, e não sabe dá-la senão por intermédio da expressão física, dá-a dando patadas a todos. Assim é efetivamente, a ditadura da opinião da maioria – pois é ela “sabiamente” quem dita a regra do que é certo ou errado.
Mesmo vivendo no berço da democracia, Socrates tinha sérias reservas quanto ao regime democrático. Ele se recusava a aceitar que, só porque era defendida pela maioria, uma opinião estava certa. Para ele importa mais saber se o argumento tem lógica e é razoável, e é assim que teríamos que tomar decisões, em vez de acatar a vontade da maioria.
A idéia de que pensar logicamente sobre nossas vidas pode nos ajudar a ficar mais seguros e independentes, menos conformistas e vulneráveis à opinião alheia. Devemos criar confiança em nossas própias idéias sem nos influenciarmos demais pelas opiniões alheias. Seguimos cegamente as opiniões de pessoas importante principalmente porque imaginamos que elas sabem o que estão fazendo, por isso, vamos atrás. Tendemos a acreditar que quem ocupa cargos de liderança tem razão. Era essa crença que Sócrates queria desafiar, conclamando-nos a analisar logicamente as bobagens que ouvimos de autoridades, em vez de nos intimidarmos por sua aura de importância e aparente segurança.
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