sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Golpe em Honduras causa saudosismo no Brasil



Hoje o jornal Zero Hora do grupo RBS dedica a principal manchete de capa e duas páginas inteiras para reportagens favoráveis ao golpistas hondurenhos. Praticamente sem contraditório.

Como temos salientado aqui, o golpe em Honduras recebeu condenação praticamente unânime na comunidade internacional. Da ONU à OEA, incluindo os EUA, tradicional apoiador de golpes na América Latina, houve condenação ao golpe. Mas, no Brasil existe uma exceção: a mídia corporativa.

Perdida ideologicamente com o ocaso do neoliberalismo e inconformada com as mudanças no continente, a mídia corporativa se volta ao passado com saudosismo das ditaduras latino-americanas. O golpe hondurenho é visto como uma "balão de ensaio" que caso dê bons resultados poderá incentivar os desejos inconfessáveis dos golpistas de plantão. Nesse caso, a mídia corporativa poderá escrever editoriais como o publicado pelo o Jornal O GLOBO, no dia 02 de Abril de 1964, glorificando o golpe civil-militar e o início da ditadura.

Editorial de "O Globo", em 02/04/1964


Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.

Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.

Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo.

Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.

Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo.

As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, "são instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI."

No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, consequentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei.

Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranquilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.

Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo.

A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.

Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor.

2 comentários:

Anônimo disse...

ZH diverge totalmente da Radio Globo de Honduras porque fabrica manchetes a partir da sua mitomania e não notícias a partir de Tegucigalpa.
Tanto a Radio Globo Honduras, quanto Cristinha Kirhner se referem a coisas do tipo da RBS como "imprensa golpista".
Vai virar um estilo de jornalismo já plenamente identificado.
Infelizmento o site da Radio Globo Honduras hoje aparece desconfigurado e não se consegue acompanhar a sua excelente e animada programação.

Vladimir disse...

A rádio Globo de Honduras tem sido atacada frequentemente pelos golpistas sem que nenhuma voz da mídia corporativa se levante em defesa da "liberdade de imprensa" e denúncie os ataques do golpistas.

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