Publicado na página da revista Carta Capital (http://www.cartacapital.com.br).
Por Paulo Cezar da Rosa
Por Paulo Cezar da Rosa
A política gaúcha tem se mostrado mais criativa que os novelistas da rede Globo. No jogo intrincado da disputa de rumos para o Estado, as hipóteses de desdobramento são tantas que um observador atento desistiria de qualquer prognóstico.
A governadora Yeda, por exemplo, depois de passar mais de dois anos ignorando ataques, parece ter resolvido descer do salto e passou a chutar a canela dos adversários. Tal mudança de atitude não pode ser analisada como um rompante, um desabafo ou uma manifestação espontânea. A mudança de Yeda só admite duas avaliações diametralmente opostas: ou Yeda jogou a toalha e decidiu, como um náufrago, tentar levar consigo ao fundo do poço aqueles que acredita serem seus algozes, ou Yeda está fora da realidade e acha que pode reverter o quadro de crise e desgaste de seu governo.
Derrotada ou fora da realidade, o fato é que Yeda também assumiu que a sucessão gaúcha já é um jogo intrincado de lances midiáticos, notas oficiais, factóides políticos e posicionamentos forjados. Enquanto a disputa do governo do Brasil assemelha-se a uma partida de xadrez desenvolvida por profissionais, a sucessão gaúcha parece mais uma luta livre, uma briga de rua.
Sangrar até o final
Na quinta feira, 16, Yeda amanheceu com uma manifestação diante de sua casa no bairro Vila Jardim. Dentro de sua nova postura, Yeda foi para a cerca de sua nova residência enfrentar os manifestantes. A Brigada Militar deteve diversas pessoas, inclusive a presidente do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS), entidade que lidera um pool de sindicatos em campanha pelo impeachment da governadora.
Na mesma quinta feira, os jornais gaúchos davam conta de que o senador Pedro Simon (PMDB), que em Brasília notabilizou-se pela defesa da ética, pedidos de impeachment e distribuição de recomendações de renúncias, fazia a defesa da permanência de seu partido no governo do Estado "pelo menos enquanto o Ministério Público não concluir suas investigações".
Para o cidadão comum, a posição do senador é incompreensível. Aliás, a política gaúcha como um todo hoje parece incompreensível. Mas em meio à loucura geral, já é possível ter uma certeza: feito o último samurai, Yeda decidiu sangrar até o final.
Yeda jogou a toalha?
A governadora Yeda Crusius já iniciara a semana abrindo guerra contra o ministro Tarso Genro. No domingo, dia 12, Yeda deu entrevista exclusiva à TV Record acusando o ministro da Justiça de estar por trás de uma campanha cujo objetivo seria inviabilizar o seu governo. "Dá pra ver perfeitamente que começou antes da hora a campanha eleitoral quando há ministro gaúcho candidato que provoca ações que impedem, reduzem ou dão mais trabalho para a governadora e o seu governo fazerem coisas boas para o Estado", disse a governadora na entrevista.
O ataque de Yeda a Tarso tinha um sentido preciso: Yeda agora tenta “eleitoralizar” o debate e jogar todos os problemas e denúncias (inclusive a de que comprou sua casa com sobras de campanha) na vala comum da sucessão de 2010.
A iniciativa da governadora se deu na seqüência de um plano de marketing anterior de divulgação de "fatos positivos". Anunciando obras e conquistas, Yeda pretendia reverter a sucessão de escândalos éticos e crises políticas de seu governo. O plano da governadora levou-a ao limite do desconhecimento da realidade. Após 22 trocas de secretários e constantes denúncias de corrupção, o governo Yeda Crusius já conta com um pedido de CPI com 17 de 19 assinaturas necessárias e dois pedidos de impeachment no parlamento gaúcho. Um, do PSOL, e outro do Fórum dos Servidores Públicos, cujos sindicatos também investem em campanhas de propaganda e ações de rua para a abertura de investigação em sua gestão.
Se a acusação da governadora gaúcha contra o ministro da Justiça tivesse consistência, Yeda provavelmente não teria procurado um veículo secundário na mídia gaúcha para denunciá-lo como "ministro gaúcho candidato". O fato é que, a esta altura, Yeda Rorato Crusius parece já não contar mais com o apoio da RBS, grupo proprietário dos principais meios de comunicação no Rio Grande do Sul, que limitou-se a repercutir a entrevista da governadora, dada ao concorrente, com um distanciamento crítico.
9 comentários:
Em primeiro lugar: parem com essa besteira de dizer que "para o cidadão comum" a postura de Simon é incompreensível! O "cidadão comum" do RS não tem a mínima noção de qual é a posição do Senador vitalício Pedro Simon, bem como não tem a mínima noção do que se passa no seu estado! Se soubesse, entraria Assembleia Legislativa adentro, apontando o dedo na cara dos deputados, para resolver essa procrastinação que se arrasta há meses: as benditas duas assinaturas que faltam para a instalação da CPI.
Outra afirmação completamente divorciada da realidade, é a de que a RBS deixou de apoiar o Governo Yeda. Bastava acompanhar a cobertura da manifestação na quinta, bem como ler o editorial da Zero Hora na sexta-feira, para verificar o quanto a RBS "deixou de apoiar Yeda".
A não ser que o articulista considere a acusação da RBS, de que os professores que participaram da manifestação estariam agindo como o MST, um indício de que tal apoio não existe mais. É sempre bom lembrar, que a RBS se especializou em criminalizar movimentos sociais, particularmente, o MST, ao mesmo tempo em que trata os indiciados na Operação Rodin como homens de "inteligência superior".
Então, ao abordar a situação do RS, informem-se um pouco mais. E, por favor, parem com essa bobagem de dizer que o "cidadão comum" do RS sabe alguma coisa do que se passa diante do seu nariz. Estamos numa situação, em que os poucos "cidadãos incomuns" desse estado, jamais poderiam imaginar, que chegaríamos. E ninguém chega, aonde chegamos, se o povo fosse politizado, como a maioria gosta de se auto-proclamar.
Por favor! Parem de tratar o povo gaúcho, como se ele tivesse consciência de alguma coisa. Isso só nos atrapalha! Descrevam-no na sua real dimensão: gado midiotizado, que acredita piamente no que ouve no Jornal do Almoço e lê na Zero Hora [e afins]. Ou bovinão, se preferirem, alcunha muito apropriada, criada por um blogueiro daqui.
Eugênio, concordo com tuas críticas à matéria da Carta Capital. Só destaco que precisamos dar um desconto, pois eles estão vendo a situação do centro do país. Acompanham de forma distante as consequências trágicas da eleição dessa turma para governar o RS.
Eugênio e Partisan: não temos nada de politizados e sim de imbecilizados, pois se realmente a primeira alcunha fosse verdadeira teríamos uma multidão nas ruas pedindo a saída da trololó.
A maioria quer cuidar do próprio umbigo e se lixando pro coletivo.
A RBS parte do princípio de que os corruptos que ela apoia são pessoas distintas ao contrário dos outros.
Mas é fato que a RBS tenta se "distanciar" do governo e mudou a sua linha editorial.
Isso não muda a sua condição de classe!!! Ela nunca para bater na Yeda, vai defender um movimento social, ainda mais um sindicato como o CPERS, com a composição do CPERS, que começa a se tornar referencia para a esquerda combativa, q busca alternativas ao jogo eleitoral/instiucional. Isso nunca. Agora q a ´Zéagá viu q o negócio fedeu, e tá tentando achar outro grupo para botar debaixo de sua asa, ah, isso tá. A linha da abelhinha mudou. A linah da ZH mudou. Pelo visto eles vão se abraçar com tudo para salvar o velho MDB de guerra desse naufrágio, e criar uma alternativa de classe (independente do nome), que salvaguarde seus interesses.
Breton: Concordo. E eles não acharam por conta da indefinição do PMDB. Na realidade eles querem o Fogaça não fede nem cheira o que, ainda, não é consenso, porque o Rigotto resolveu querer.
Não vejo mudança significativa do editorial da RBS. A defesa do gov. Yeda é inequívoca. A cobertura do episódio, envolvendo os professores, chega a ser escabrosa, de tão parcial.
O que é publicado sobre os escândalos, é aquilo que não há mesmo como esconder. Afinal de contas, até a RBS precisa passar, de vez em quando, uma imagem de "credibilidade".
O que é perceptível, isso sim, é uma tática de morde e assopra. Publica-se o que todo o mundo já sabe, dizendo-se, ao mesmo tempo, que não existem fatos novos e, portanto, não há porque ser instituída uma CPI.
A RBS trabalha numa linha de tentar se descolar desse degoverno que ela elegeu, passando uma imagem de "imparcial", sem nunca negar-lhe apoio nas horas críticas. Isso aconteceu, por exemplo, quando o PSOL fez as denúncias e a RBS saiu a campo, exigindo as provas. Coisa que ela nunca se preocupou em fazer, quando o caso era incriminar o PT. A palavra de qualquer paulinho facada já servia [e serve].
Antes disso, sua estratégia foi a de desqualificar, o tempo todo, a CPI do Detran. E, como estes, existem outros exemplos.
A minha curiosidade é ver como a RBS equacionará a questão: manter Yeda no poder e, ao mesmo, não prejudicar a campanha do Serra no RS. Os jornais de SP já estão batendo na Yeda, o que aqui, ainda, não está acontecendo.
E como o povo "politizado" do RS entra nisso tudo? Não entra nem como espectador, pois não se dá conta de nada. Quanto muito, entra como massa de manobra.
Quanto à percepção do pessoal do centro do país, em relação ao que acontece aqui no Rs, parece-me que estão muito otimistas. Yeda ainda não caiu, nem cairá tão fácil. Ela sobreviverá de barraco em barraco com a mídia lhe cobrindo a retaguarda. Recomenda-se, ao pessoal de fora, a leitura atenta dos editoriais dos nossos jornalecos.
Claro, mas manter sua credibilidade, por menor que seja, já é um passo para se afastar da Yeda. Coisa q de inicio não fez, e que o SUL por exemplo, segue não fazendo. É recente, muito recente essa mudança, coisa de semanas, ou por influência serrista, ou por ter caido a ficha (ou confirmado algo) que não tem mais como segurar, a coisa vai EXPLODIR! Quem ficar dançou, perde legitiimaidade. Então, recuo tático, se abraçando naqueles que sempre tiveram do seu lado, mas, que para o projeto do PRBS, são qualitativamente inferiores ao gob. Yeda. Na verdade a eleição da Yeda foi a maior vitória da história recente, pós Britto,da direita guasca, q agora vai ter q dar uma recuada, mas ao lado dos seus.
Eugênio,
Perfeita a tua análise.
Também não acho que houve mudança na linha editorial da ZH que apoia sim o governo Yeda e vai apoiar o Serra.
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