quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A Coragem, a Omissão e a Covardia

Por Adão Paiani - advogado e ex-ouvidor Agrário e ex-ouvidor da Secretária de Segurança Pública do Estado
Após vários dias afastado dos acontecimentos que mobilizam a Assembléia Legislativa do Estado Gaúcho, voltei na tarde desta segunda-feira (14) ao Palácio Farroupilha para, rapidamente, assistir a sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito que busca esclarecer as denúncias que atolam até o pescoço o Governo de Yeda Rorato Crusius. Saí de lá com três palavras martelando o pensamento; e que servem de título a esse comentário.

No mesmo terceiro andar da Casa, ao mesmo tempo, duas reuniões se realizavam. Uma delas, que reputo ser a legítima, era conduzida, conforme regimentalmente previsto, pela sua Presidente, acompanhada de alguns de seus pares que, efetivamente, honram o mandato que receberam, e são conscientes da importância de ocupar, com dignidade e decência, uma cadeira no Legislativo gaúcho; dentro do qual, literalmente, nasceu o episódio fundador da identidade cívica e cultural riograndense.

É importante lembrar, não apenas como curiosidade histórica, que o parlamento riograndense nasceu em abril de 1835, e das discussões internas e impasses havidos entre aqueles vinte e oito parlamentares da primeira legislatura, criou-se o caldo de cultura que levou ao vinte de setembro e a tudo o que ocorreu depois. Da verdadeira odisséia que por dez anos levou nosso Estado a enfrentar um Império, que possuía forças e recursos infinitamente superiores, criou-se o mito do gaúcho que hoje se cultua e reproduz dentro e fora de nossas fronteiras.

Os homens e mulheres que escreveram com sangue aquela história não devem ser idealizados. Eram como quaisquer outros; com seus erros, contradições e até falhas indesculpáveis de caráter. Mas a despeito disso souberam estar à altura do momento histórico que viveram e buscaram fazer o que entenderam ser a coisa certa. E o fizeram com coragem, a despeito das conseqüências pessoais, do perigo ou das pressões que, inevitavelmente, sofreram.

Esses, onde estiveram, nem que esse lugar seja apenas a lembrança daqueles que ainda hoje os reverenciam, devem estar orgulhosos das posturas desse pequeno grupo de parlamentares que, superando as divergências ideológicas que os separam, tentam desnudar, aos olhos do Rio Grande, toda a vergonha do Governo mais corrupto de toda a história sul-rio-grandense.

Estes, sim, estão honrando o mandato que lhes foi delegado e homenageando, mesmo sem perceber, apenas com suas atitudes, aquilo que durante essa semana tão efusivamente comemora o Rio Grande; a Revolução que não ganhamos, mas cujas idéias foram defendidas até o limite das forças ou da própria vida, por homens e mulheres, livres e escravos, abastados e pobres, aventureiros e idealistas, mas que tinham em comum, senão outras coisas, pelo menos a coragem.

A segunda reunião a que me referi, capitaneada pelo relator da Comissão Parlamentar de Inquérito, foi, em si mesma, o episódio seguramente mais lamentável que as paredes daquela casa já presenciaram, e depõe contra tudo o que deve representar um parlamento e a própria atividade parlamentar. Esses que a cada período de quatro anos escolhemos para nos representar estão lá não apenas para legislar. Estão lá, também, para fiscalizar. E é exatamente essa prerrogativa constitucional que a chamada “base aliada”; ou seja, aquele grupo de deputados que está única e exclusivamente, dentro do parlamento, a serviço dos interesses do governo, e não de seus eleitores ou dos cidadãos do Rio Grande; está sepultando de uma forma indigna, abjeta e desonesta.

Demonstram esses homens, com suas atitudes, não serem dignos de ocupar posições que um dia foram de Bento Gonçalves da Silva, Domingos José de Almeida, José Maria Rodrigues e Marciano Ribeiro, dentre outros. Negam a própria essência da atividade parlamentar que exercem. Deixam que os interesses subterrâneos que movem a eles próprios e ao Governo que defendem se sobreponham ao dever que tem de fazer a coisa certa e de estar à altura do momento histórico no qual estão tendo o privilégio de atuar. É o mais bem acabado exemplo que a covardia não combina com o exercício da atividade parlamentar.

Curiosamente, um desse parlamentares, ao lado do referido relator, encontrava-se elegantemente pilchado, e com vistoso lenço vermelho no pescoço. Aliás, a própria Governadora do Estado tem, ultimamente, se trajado com aquilo que considera a vestimenta típica das mulheres gaúchas do período farroupilha. Um e outro se esquecem de que não se pode vestir impunemente esses trajes. O ato de trajar a pilcha, em homens e mulheres, deve ser acompanhado de atitudes condizentes com o que se busca representar. Tentar esconder a indignidade das posturas atrás de uma vestimenta que é, até por força de lei e dos costumes, traje de honra no Rio Grande, é transformá-la em mera fantasia e degradar, ainda mais, nossa história, o imaginário e a consciência coletiva.

Resta falar da omissão. Bem, essa também é incompatível com o exercício de um mandato eletivo. A ninguém a qual é dado o privilégio de representar seus concidadãos, se pode permitir atitudes omissas; principalmente frente ao grave e relevante momento que estamos vivendo. Mas é isso que se observa na imensa maioria abancada na Assembléia Legislativa gaúcha. Apenas assistem ao desenrolar dos acontecimentos e deixam toda a responsabilidade de defender os interesses de milhões de gaúchos e gaúchas, tungados por uma cleptocracia, a um reduzido grupo de quatro deputados e seus suplentes. Permitem que a lei e a justiça sejam pisoteadas por uma pretensa maioria, representada por uma base aliada que hoje já não é mais apenas apoiadora, mas cúmplice de Yeda Crusius e da camarilha que tomou as estruturas do Estado.

Esses omissos são igualmente cúmplices, e apesar de tentarem manter-se em cima do muro, certamente serão julgados, ao lado daqueles, pelo tribunal da história. E se assim não for; bem, se existir algum lugar no universo que corresponda ao que o imaginário judaico-cristão chama de inferno; lá certamente deve ter um local especialmente reservado aos covardes por omissão.

Um comentário:

Anônimo disse...

NÃO FOI ADÃO PAIANI QUE AFIRMOU QUE SABIA O NOME DO OFICIAL QUE MATOU O SEM TERRA ELTON??? ELE JÁ DIVULGOU, OU ESTÁ OMISSO, ACOVARDADO, OU FALOU DEMAIS????

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