Liguei o rádio do carro. Estava sintonizado em uma das várias emissoras do oligopólio midiático regional. O programa transmitia uma matéria sobre os estragos das enchentes no Rio Grande do Sul. O repórter, diretamente de uma das localidades atingidas, perguntou a uma das moradoras vitimadas pela calamidade:
- A senhora já foi várias vezes atingida por enchentes. Nunca pensou em mudar para outra área?
Com um misto de surpresa e revolta, a moradora respondeu rápida e ironicamente:
- Claro, muitas vezes, mas para onde iria sem dinheiro?
Uma boa amostra do compromisso e sensibilidade social da mídia corporativa que parece estar, cada vez mais, num mundo paralelo, totalmente distinto da realidade da maioria da população.
2 comentários:
E tb querendo responsabilizar a moradora pela sua tragédia, naquela ótica de que o indivíduo é o responsável por tudo.
De tanto bater na tecla do individualismo, da competição, do basta querer/para poder, ao mesmo tempo que desconstrói o valor do trabalho colaborativo, da participação popular, que os jornalistas, cada ez mais, perdem a noção do mundo em que vivem!
Não faz muito fizeram uma matéria sobre os moradores de rua. Insinuaram que eles, no auge do inverno gaúcho, não gostavam de ir aos albergues por possuirem uma natureza "boêmia". A falta de vagas nos albergues e outras razões não interessavam. Eles gostavam de viver na rua. Do tipo "não tem pão comam brioches".
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